É descrito como “uma história portuguesa contada e pintada por Jan Balet“. Publicado pela primeira vez na Alemanha no ano de 1965, “João” (Kalandraka, 2017) apresenta-nos à família Sampaio, que vive na Nazaré, a mais conhecida vila de pescadores portuguesa.
O filho mais novo, Mateus Afonso Manuel Jesus Sampaio, tem um nome tão grande para um rapaz tão pequeno que todos o tratam por João. Passa os dias na praia, vendo as redes serem preparadas depois de terem sido rasgadas pelos dentes dos monstros marinhos, e acorda quando os homens se levantam para a faina.
João tem, porém, sonhos que vão para além do mar: quer escapar ao destino de ser pescador, a essa inevitabilidade genérica que tem passado de família em família, e tornar-se, até porque está farto de comer e de cheirar a peixe, num comerciante, podendo também comer carne e bolos.
Porém, quando um sonho de grandeza cessa quando está prestes a ser castigado e enviado para a lua, João acaba por tentar encontrar consolação naquilo que tem: “O pescador é dono do seu peixe, presidente da sua casa, governante do seu barco e rei dos mares!“.
Ainda que tenha sido escrito em 1965, e pondo de lado a questão de um Portugal enclausurado e culturalmente a milhas de muitos outros, Jan Balet optou aqui por uma moral severa e um pouco deslocada, decidindo cortar os sonhos pela raiz num convite à resignação. É bom dar-se valor ao que se tem, mas não custa nada sonhar com um mundo alternativo ao que nos é dado como predestinado.
Sem Comentários