“-Foi sempre assim? Como era o mundo antes de eu nascer?”
É esta a pergunta que uma jovem e muito curiosa neta dirige à sua avó, que então lhe fala dos tempos em que ferros de engomar a carvão, candeeiros a petróleo e conversadeiras de pau-santo eram a última moda.
Com a neta claramente às aranhas, a avó decide que chegou a altura de ir buscar a manta do tempo, feita muito atrás no calendário pela trisavó Maria, que a havia ensinado a tricotar – isto muito tempo depois de um feiticeiro lhe ter oferecido um novelo de lã amarelo e cinzento.
Avó e neta viajam então ao tempo do padeiro, da leiteira, do rapaz da mercearia, da peixeira e do ardina, “pessoas para cá e para lá, a pensar numa coisa de cada vez“, mas também ao lugar do telefone fixo, da máquina de escrever, do gramofone, da máquina de costura a pedal ou dos penicos de esmalte. Há, porém, algo que nunca mudou: o mundo continua – e continuará, espera-se – a ter pessoas.
Neste “Num Tempo Que Já Lá Vai” (Gailivro, 2017), Rosário Alçada Araújo mostra-nos que cada tempo merece ser preservado à parte, numa história sobre a partilha, a memória, a descendência e aquilo que vivemos e decidimos passar aos outros na forma de prendas.
As ilustrações de Patrícia Furtado captam na perfeição todo este cenário de viagem entre gerações – incluindo o lado da fantasia -, ilustrando objectos antigos, emoções trocadas entre avó e neta e um tempo onde tudo corria de forma mais serena.
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