Sonetos imbecis, poesia desviante, humor negro espremido em “Sonetos” (Tinta da China, 2017) com sotaque, uma cortesia de Gregorio Duvivier, conhecido sobretudo por ter ajudado a criar e a animar um empreendimento com o nome de Porta dos Fundos – e também o autor do livro “Caviar é Uma Ova”, tema da entrevista que o Deus Me Livro fez ao brasileiro em 2015 no Folio.
Por este livro com ar de caderninho fala-se, respeitando e avacalhando quase sempre o formato soneto, de traições sem dramas, tumores e AVC’s, álcool e maconha, Trump e a Rainha de Inglaterra, IPhone e Whatsapp, comprimidos azuis, Tinder e Facebook, pirocas flácidas ou em riste, excesso de cafeína e pouco amor. Tudo com muito palavrão à mistura.
Um livro ideal para desfolhar e recitar, à vez, durante uma tarde que envolva caipirinhas, chope e mojitos. Por aqui escolhemos este:
“Mahatma se amarrava numa glande,
Leonardo, pra mais de vinte, dava.
Marat só se amarrava se era grande.
Não Descartes um pau, René pensava.
Calígula viveu co’a língua lá,
Picasso não tirava o seu Dalí.
Madre Teresa sabe em qual cu tá,
Implorava a Florbela: espanca aqui.
Agostinho gostava era de nabo.
São Tomás tomava aqui no rabo.
Até Jesus fazia troca-troca.
Há quem diga: só falas de cacete?
Se quiseres falamos sobre Goethe,
Que, aliás, adorava uma piroca.”
1 Commentário
Felizmente a poesia de Gregorio Duvivier não é representativa de tantos bons autores novos publicados por pequenas e microeditoras, ou mesmo os contemporâneos consolidados pelas grandes editoras, sem contar a poesia do modernismo.
Para quem lê Cioran ou poesia obscena o poema citado de Gregorio é simplesmente retrato da publicação de livros de poesia de personalidades, assim como foi publicado o livro de Michel Temer, é mais um reflexo dos bastidores dos media e do poder.
Votar no mesmo candidato de Gregorio no segundo turno das eleições 2018 não me faz míope para esse desserviço boçal à poesia brasileira no exterior.
Obrigado
Mauro Jorge