“Quando o inconformismo não é suficiente, quando o vanguardismo não traz resultados, é necessário fazer uma revolução.”
Inconformismo, vanguardismo, revolução, resignação. São estes os temas que atravessam “A Revolução” (Alfaguara, 2017), segundo título da colecção Afonso Cruz, que tem por missão dar a conhecer ao público alguns dos textos que inspiraram o autor de “Jesus Cristo Bebia Cerveja” ou “Para Onda Vão os Guarda-Chuvas”, e que conta com ilustrações de artistas portugueses – neste segundo número a sorte coube a Tiago Galo.
O livro conta a história de um homem que um dia se aborreceu com o seu quarto, tendo decidido mexer na mobília de uma ponta à outra. Mudou a cama, alterou a disposição da mesa, trocou de posição o armário que, a certa altura, chegou mesmo a utilizar como cama. Foi experimentando, alterando, até regressar ao ponto de partida com um novo mantra: “Quando me sinto aborrecido, recordo os tempos em que fui revolucionário“.
O texto de Seawovir Mrozek está carregado de ironia e espírito de sátira, fazendo de um quarto uma metáfora para a vida, uma parábola ao conformismo e à resignação – ao momento em que se decide puxar a alavanca dos sonhos para dar ouvidos à segurança.
Se seguirmos as pistas da obra de Afonso Cruz, lugar os livros se vão cruzando e complementando, encontramos em “Jalan Jalan”, publicado este ano pela Companhia das Letras, um pequeno apontamento sobre este texto de Mrozek, acompanhado de uma afirmação pessoal e política sobre o estado do mundo:
“Os que verdadeiramente andam a mudar o mundo, os que não estão contentes com o ar fétido, que querem moldar a sociedade àquilo que acham certo, não são neste momento os anjos bons, são os demónios. E nós estamos a permiti-los. Achamos que este é o melhor dos mundos e estamos armados com sofás e comandos de televisão e, se for preciso agir, há a caixa de comentários do Facebook. Somos meros espectadores. Deixamos que se ergam muros na Europa, na América, em todo o lado. Permitimos a espoliação dos refugiados. O problema é que já vimos isto acontecer, mas na altura usavam-se bigodes à Charlot.”
Sem formato fixo, a colecção Afonso Cruz terá uma periodicidade de dois títulos por ano. Em 2017, para além deste “A Revolução”, foi também lançado “A Banda”, que nos trouxe a canção escrita por Chico Buarque com ilustrações de Nádia e Tiago Albuquerque.
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