«Uma família ímpar aquela. Com o dom de amar e odiar simetricamente», serve de epítome à mais recente obra publicada de Nélida Piñon, “A República dos Sonhos” (Temas e Debates, 2014). Um livro que aborda o nascimento de um Brasil, sonhador mas sôfrego, na génese da sua identidade.
É a partir do reconto da odisseia de Eulália, Madruga e Venâncio que a autora faz um retrato vivo do Brasil, pós-Segunda Guerra Mundial, durante o apogeu da sua industrialização. Um Brasil frágil, ocupado por personalidades como Getúlio Vargas.
Madruga é um ambicioso empresário e dono de conflitos interiores, cujo sonho é deter o Brasil por inteiro. Incapacitado de amar o país que o acolhe e a sua pátria (a Galiza, vizinha tão amada pelos lusitanos). Eulália, uma pomba, um ser divino e misterioso, cuja presença celestial encanta todos os que a rodeiam, esperançosa e atenta, como a boa mãe que é. E Venâncio, a personificação do desespero, do medo, da insanidade. Diferentes facetas do Brasil, diferentes fases na sua História.
“A República dos Sonhos” é mais que a história de uma família disfuncional em torno de uma identidade nacional ainda não ganha. Uma família que podia ter o seu lugar nos dias de hoje. “A República dos Sonhos” é uma afirmação. Devaneios incendiados, esperanças putrefactas e a moral humana corrompida ao tutano. A tudo isto cheira o Brasil de Nélida Piñon.
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