José Paulo Cavalcanti é um advogado brasileiro, ex-Ministro da Justiça, nascido em 1948, que, para além de ser membro da academia Pernambucana das Letras, foi membro da Comissão Nacional da Verdade, instituída pela casa Civil da Presidência da República do Brasil, em 2012,com a finalidade de apurar graves violações dos Direitos Humanos naquele país entre 1946 e 1985 (sucessivos governos da ditadura militar).
Autor reconhecido sobre o grande poeta português, que sempre o fascinou, escreveu “Fernando Pessoa, uma quase autobiografia”, na qual assume uma paixão pela escrita pessoana e um profundo conhecimento sobre a “solitária multidão de um só Pessoa”.
“Somente a Verdade” (Porto Editora, 2017) reflecte a sua longa – mais de quarenta anos – experiência humana enquanto advogado, no escritório herdado de seu pai, a par das impressões indeléveis que lhe ficaram do exercício do cargo na Comissão Nacional da Verdade.
Na apresentação da obra, o autor refere o seu fascínio sobre a natureza humana e por casos humanos que, dadas as características, fogem ao convencional: “Por isso escrevo este livro. Para contar histórias. Para deixar registrado um pedaço de mim. Para me sentir vivo, depois de ver tanto desalento. Para dizer que me anima, no carrossel do destino, sobretudo o que é breve e perto. (…) Para celebrar, permanentemente, a gloriosa epifania da existência-mistérios, misérias, o inesperado, o insólito, o mundano, o trágico, o sublime, o espanto.”.
O livro de contos (22 no total), escritos na terceira pessoa, falam desassombradamente de situações pessoais e familiares, de desencontros, traições, reconciliações, muitas vezes protagonizadas por advogados ou que, quase sempre, envolvem o conselho dos mesmos em histórias complexas de vida. Contos que falam sobre o medo sentido por muitas dessas personagens, aquando da ditadura militar brasileira, a par de atitudes corajosas e redenção pessoal.
Textos muito bem escritos e poderosos quanto ao profundo conhecimento da mente humana, com uma extrema sensibilidade posta ao serviço da palavra. Uma fina ironia, sempre presente no texto nas frases sempre muito curtas e bem sincopadas, onde o carácter condensado de cada história fica a espraiar-se pela mente do leitor até assumir todas as suas implicações e atingir a forma plena.
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