Uma vez que só estivemos em actividade durante metade do ano, decidimos trocar a pomposidade dos melhores do ano por uma espécie de lista de sugestões literárias, dando aos escribas mais assíduos cá da casa a oportunidade de partilharem os títulos que mais os comoveram, fizeram tremer ou os levaram às lágrimas neste ano de 2014. Para o ano fica desde já prometido um grande fogo-de-artifício e uma mesa farta para celebrar os melhores de 2015.
As escolhas de…
Andreia Rasga
(Infanto-Juvenil)
“Avozinha Gângster” | David Williams e Tony Ross (Porto Editora)
Bestseller a nível mundial, com mais de 4 milhões de exemplares vendidos, é uma história de humor e amor que agarra, de imediato, leitores de qualquer idade.
“Herberto” | Lara Hawthorne (bruaá)
Talentos escondidos e revelados, numa história de extrema beleza, delicadeza e sensibilidade.
“Hoje sinto-me” | Madalena Moniz (Orfeu Negro)
Um livro extremamente bonito onde há espaço para muitos e contraditórios sentimentos. Um livro para todos e para todos os dias.
“O meu nome é” | Rita Correia (Edição de autor)
Há um nome para descobrir que é também um sentimento, uma sensação, um modo de vida e um ensinamento a guardar no coração.
Carolina Sousa
“Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas” | José Saramago (Porto Editora)
A obra inacabada de Saramago demonstra a sua perspicaz habilidade de contornar o esquecimento, criando, desta forma, mais um grande marco na literatura portuguesa.”
“Os Velhos Também Querem Viver” | Gonçalo M. Tavares (Editorial Caminho)
Gonçalo M. Tavares, que nunca deixa de surpreender, continua a brindar-nos com o que faz de melhor: Reflexões. E é a refletir que deixa a sua marca neste ano.”
Carlos Augusto
“O Guardião das Causas Perdidas” | Jussi Adler-Olsen (Editorial Presença)
Aconselhado a todos os que gostam de um bom romance policial, “O Guardião das Causas Perdidas” vai, de certeza, figurar no mapa das obras favoritas dos fãs da ficção escandinava.
“A Mulher Louca” | Juan José Millás (Planeta Editora)
Sinónimo de um romance inteiro e imperdível, “A Mulher Louca” revela o melhor de Juan José Millás, um escritor que tem o condão de transformar a pura ficção em ficção pura.
“Agatha Christie – Os Crimes do Monograma” | Sophie Hannah (Asa)
“Os Crimes do Monograma”, escrito pela também britânica Sophie Hannah, traz de volta o universo ímpar de Christie e Poirot. Os fãs podem ficar descansados, pois a autora fez um maravilhoso trabalho enquanto herdeira do espólio da Rainha do Crime.
“Montedor” | J. Rentes de Carvalho (Quetzal Editores)
Com uma prosa directa, simples e repleta de uma portugalidade que se vive ainda fora dos grandes meios urbanos, “Montedor” é um livro fabuloso e a sua leitura é obrigatória.
“Como Sentimos” | Giovanni Frazzetto (Bertrand Editora)
Mais do que saber o que a neurociência pode ou não dizer sobre as nossas emoções, este livro faz-nos entender o cérebro como nunca o tínhamos visto e, acima de tudo, demonstra que a ciência é insuficiente para conseguir explicar a pertinência das emoções, pois o meio ambiente e a experiência pessoal são armas poderosas nesta luta entre razão e sentimentos.
“Biografia Involuntária dos Amantes” | João Tordo (Alfaguara)
Nas páginas deste brilhante romance não se procura a culpa, a acusação. O propósito reside na tentativa de compreensão, de encaixar as desconexas peças de um puzzle que teima em transformar os (simples) atos da vida em matéria de poema, pois para uns o amor pode ser a cura, enquanto outros o assumem como uma aguda forma de enfermidade.
“Um, Dó, Li, Tá” | M. J. Arlidge (Topseller)
Com capítulos curtos, dinâmicos e viciantes, “Um, dó, li, tá” leva o leitor a devorar num ápice as páginas deste thriller psicológico cujos contornos mórbidos arrepiam e entusiasmam pela sua brutalidade.
“Mar” | Afonso Cruz (Alfaguara)
No seu todo, esta obra, livre de espartilhos ou rótulos literários, faz sentir a maresia em cada página. Afonso Cruz confirma que «a proximidade do mar provoca profundas alterações na alma», ainda que o mesmo possa assumir-se como «um irracional ato divino».
“Canadá” | Richard Ford (Porto Editora)
Com “Canadá”, Richard Ford faz uma viagem ao abismo do ser humano, na tentativa de uma redenção examinativa de uma vida que foi arruinada pela irresponsabilidade alheia.
Gabriel Martins
(Banda Desenhada)
“Toda a Mafalda – Edição Comemorativa dos 50 anos” | Quino (Verbo)
No ano em que a personagem mais emblemática de Quino completa 50 anos, a Verbo aproveitou para lançar esta compilação que inclui todas as tiras da personagem. Uma forma rápida e eficiente de reunir rapidamente a colecção de tiras desta magnífica série.
“O Espelho de Mogli” | Olivier Schrauwen (MMMNNNRRRG)
Partindo do livro de Kipling, Olivier Schrauwen faz em “O Espelho de Mogli” uma inteligente e humorística viagem sobre a identidade do Homem, sem nunca recorrer ao uso de palavras e utilizando uma estética visual que nos remete para uma BD do passado. Obrigatório.
“Logicomix” | Apostolos Doxiadis (Gradiva)
Uma união entre a Banda Desenhada e a Matemática, logicamente, só podia resultar num produto memorável. A definitiva afirmação do papel da Lógica enquanto ramo da matemática, contada através da banda desenhada e da figura de Bertrand Russel, foi uma das melhores apostas do ano.
“Eu Mato Gigantes” | Joe Kelly e J. M. Ken Niimura (Kingpin Books)
O livro de Joe Kelly e J. M. Ken Niimura, que tem tocado no coração de tantos, chegou a Portugal pela chancela Kingpin Books. Finalmente o mundo mágico criado por Bárbara está ao alcance de todos nós, é só tirar o livro da prateleira e deixarem-se contagiar.
“Saga” | Brian K. Vaughan e Fiona Staples (G. Floy)
A G. Floy – editora com origem na Dinamarca – tem começado a apostar no mercado português no que toca a edições de BD norte-americana. De entre as escolhas é de salientar “Saga”, uma mistura entre ficção científica e fantasia que continua a receber rasgados elogios por parte da crítica.
“Papá em África” | Anton Kannemeyer (MMMNNNRRRG)
Anton Kannemeyer reúne neste livro várias das suas BD’s que criticam e denunciam a mentalidade colonialista empregue na África do Sul. Um livro que coloca o dedo na ferida recorrendo, por vezes, a um humor mordaz e incómodo.
“Zona de Desconforto” | VA (Chili com Carne)
O terceiro volume da colecção Low Cost volta a ser uma antologia, convidando uma série de autores a partilharem as suas experiências fora do país em tom de diário gráfico. O resultado é um conjunto de histórias variadas na narrativa e no desenho, mas similares na apresentação de um certo desconforto tão patente nos dias de hoje.
“Terminal Tower” | Manuel João Neto e André Coelho (Chili Com Carne)
Existe ordem no caos que “Terminal Tower” nos apresenta. O livro de Manuel João Neto e André Coelho, além da sua enorme força imagética, mereceria sempre um destaque, nem que fosse por nos mostrar as potencialidades da BD enquanto linguagem, reforçando que esta não tem de se prender sempre a uma narrativa linear com princípio, meio e fim.
“Sepulturas dos Pais” | David Soares e André Coelho (Kingpin Books)
Trata-se de mais um conto negro de Soares, que regressa às composições impregnadas de magia. A acompanhá-lo nesta viagem temos os desenhos crus de André Coelho, cuja tenebrosidade vai sempre de encontro ao que a história pede.
“Crumbs” | VA (Kingpin Books)
Nesta antologia da Kingpin Books encontram-se reunidos, em 12 histórias, alguns dos autores portugueses de BD mais proeminentes da actualidade. Uma antologia escrita em inglês com o intuito de apresentar ao mundo uma fatia da BD nacional e cujo objectivo serve igualmente para nós, se esta língua estrangeira não for um impedimento.
Jim Curioso | Matthias Picard (Polvo)
Uma viagem 3D pelas profundezas do Oceano que fará as maravilhas de qualquer criança e de qualquer adulto que não tenha receios em se aventurar neste mergulho.
Eurico Ricardo
“O Filho” | Philipp Meyer (Bertrand Editora)
A viagem perfeita entre a época que vivemos e os tempos sanguinários dos nossos antepassados.
Luisa Velez
“A Hora das Sombras” | Johan Theorin (Porto Editora)
Um thriller que oscila entre o passado e o presente com um ponto comum: o mistério por resolver do desaparecimento do pequeno Jens. Para além do suspense que nos compele, é notória a abordagem que faz da dor, do luto e das diferentes formas de viver o sofrimento e a perda.
Nelson Ferreira
“O Homem Verde” | Kingsley Amis (Quetzal)
Uma criativa sátira ao carácter inglês e um elogio à loucura, Kingsley Amis deixou-nos Maurice Allington para a posterioridade, o anti-herói mais contagiante que figurou numa obra publicada em Portugal este ano.
“Deus tem Caspa” | Júlio Henriques (Antígona)
O absurdo cómico nunca foi tão lúcido, e a crítica social tão acutilante (sem precisar de apontar dedos). Um híbrido de estilo e substância que tem todo o mérito por ter uma identidade marcada a ferro quente.
“Colheita” | Jim Crace (Editorial Presença)
Crace narra um tempo e espaço que não o presente, mas também é um passado que nunca existiu. Pertence ao tempo da literatura, com uma delicadeza na prosa que enaltece a sua brevidade.
“Cavaleiro Pálido, Pálido Cavaleiro” | Katherine Anne Porter (Antígona)
Anne Porter domina como poucos a arte da ambiência narrada. O retrato psicológico dos personagens constrói-se através de um minimalismo de gestos e acções, com um peso simbólico capaz de mudar quem aceitar descortiná-lo.
Pedro Miguel Silva (Editor)
“O Pintassilgo” | Donna Tartt (Editorial Presença)
Um livro magnífico onde cabem, lado a lado, Thoreaux e Whitman, rap e música clássica, Duran Duran e Boy George, bem como uma análise à pintura do século XVII feita de naturezas mortas e muita obscuridade. E que, operando um tour de force, oferece um final vertiginoso, capaz de fazer com que até o mais deprimido dos seres consiga vislumbrar um arco-íris existencial. A escolher o livro do ano seria sem dúvida este.
“Nós, os afogados” | Carsten Jensen (Bertrand Editora)
Com ecos de Melville e Setevenson, “Nós, os afogados” é uma história que decorre durante um século, atravessando gerações e mostrando de que forma o mundo – e quem nele habita – mudou com a guerra e o desejo de poder. Simplesmente brilhante.
“Rosa Candida” | Audur Ólafsdóttir (Marcador)
Há muitas histórias – e livros – sobre aquele momento em que numa pessoa se faz ouvir o clique, anunciando que a adolescência ficou para trás e que é tempo de novos desafios. Mas poucos o terão feito como Audur Ólafsdóttir em “Rosa candida”, a história de um jovem que assume o papel de pai ao mesmo tempo que se torna um homem. O mais belo livro publicado este ano.
“Alguma esperança / Leite materno” | Edward St Aubyn (Sextante Editora)
Com uma prosa no auge do refinamento e uma linguagem precisa com tanto de racional como de poético, Edward St Aubyn oferece nestes dois romances uma comédia social de proporções épicas, espirituosa e comovente, construída em torno de uma personagem a que ninguém poderá ficar indiferente.
“O Império Final” | Brandon Sanderson (Saída de Emergência)
Brandon Sanderson constrói uma história à volta da dualidade herói/vilão e que lida, de forma surpreendente, com os valores da amizade, da esperança, do amor e do sacrifício; e, igualmente, com a ideia de política. Há também uma centelha de romance teen, mas que nunca chega aos patamares melosos de sagas como Jogos da Fome ou Divergente.
“A prova do ferro” | Holly Black e Cassandra Clare (Planeta)
Apesar de algumas semelhanças com a saga Harry Potter, Magisterium é uma história possuída pela originalidade, revelando-se este “A prova de ferro” como uma das mais entusiasmantes edições de 2014 apontadas aos jovens leitores – de idade e de espírito.
“O meu amante de domingo” | Alexandra Lucas Coelho (Tinta da China)
Alexandra Lucas Coelho criou uma personagem feminina fascinante, possuída pela raiva e a fúria, num livro que chega a parecer um folhetim e que faz, do palavrão, uma arte à boa maneira do norte. Uma excelente surpresa.
“O escuro” | Lemony Snicket e Jon Klassen
Fazendo juz à sua fama de contador de histórias pouco convencional, Snicket propõe aos mais novos que enfrentem um dos seus grandes medos, através de um mergulho num conto à moda de Poe que surge aqui reforçado por ilustrações que jogam de forma sublime com a dicotomia claro/escuro. Uma lição de claridade para os mais pequenos que, ainda assim, não irão dispensar uma luz de presença.
“Todos os contos” | Edgar Allan Poe (Temas e Debates) – espécie de reedição
Depois de uma edição ilustrada em dois volumes, a Temas e Debates reúne agora num só volume “Todos os contos” (Temas e Debates, 2014) de um dos maiores mestres do terror impresso, rei do suspense, apaixonado pelo hipnotismo, poeta e pioneiro da ficção científica.
“Uma história do mundo em 100 objetos” | Neil MacGregor (Temas e Debates)
Com este livro, MacGregor presta uma homenagem à insaciável curiosidade humana sobre o mundo que está para lá do nosso alcance, bem como à necessidade que temos de o explorar e conhecer, deixando um legado material que poderá ou não tornar-se uma peça de colecção de Museu.
“Génio” | Harold Bloom (Temas e Debates)
Da Bíblia a Sócrates, passando pelas obras-primas transcendentes de Dante, Camões e Shakespeare, até à modernidade de Pessoa, Faulkner e Hemingway. Num livro atravessado pela ambição, Harold Bloom mostra como os autores se influenciaram ao longo dos séculos, expondo paralelismos acompanhados por excertos reveladores. Uma grande homenagem à Literatura.
“A casa negra” | Peter May (Marcador)
Primeiro livro da trilogia Lewis, “A casa negra” é um thriller de uma prosa invulgar, sobre um homem que tem de regressar – agora como investigador – à Ilha e à infância que julgava ter arrumado num canto da sua mente, tendo de lidar com uma casa cheia de fantasmas. Negro e cativante, espera-se que a Marcador publique agora os outros dois títulos.
“A 5ª vaga” | Rick Yangley (Editorial Presença)
Quando já parecia difícil olhar para a ficção científica de um novo ângulo, “A 5ª Vaga” – volume que dá início à trilogia com o mesmo nome – destacou-se pela originalidade. É certo que há extra- terrestres, invasões e muitos tiros, mas há também uma grande dose de humanidade, serotonina a rodos e uma história que nos deixa a chorar por mais.
“Barriga da baleia” | António Jorge Gonçalves (Pato Lógico)
Nesta sua estreia como autor do texto e ilustrador, AJG leva-nos a um mundo magnífico onde a areia é deliciosa, as árvores fantasmagóricas e o fundo do mar magnífico. E que, por entre o pulsar do medo, a tentação pelo desconhecido, o desejo de aventura e a construção da amizade, mostra que é também importante manter os rebentos debaixo de olho no seu percurso por este mundo fascinante. Um álbum magnífico.
“Saga Harry Potter” | J. K. Rowling
Vinte anos depois do primeiro livro ter chegado às livrarias nacionais, a Editorial Presença reeditou os sete livros da incrível saga Harry Potter com novas capas de encher o olho, que deixarão Hogwarts para sempre visível nas estantes dos leitores. Lumos solem!
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