Em Abril deste ano, chegou às livrarias uma preciosidade intitulada “Odes Olímpicas” (Abysmo, 2017), que pretende dar Píndaro a ler, “da forma mais directa possível, ao leitor português“. Para isso, suprimiu-se assinalar o número de versos ou das estrofes, já para não falar das antistrofes e dos epodos, em que estas odes estão tradicionalmente divididas.
As Odes Olímpicas são composições poéticas compostas para celebrar o triunfo dos vencedores dos Jogos Olímpicos, que estão muito longe dos insossos discursos modernos. Para além de enaltecer o vencedor, Píndaro aproveitava para recordar todos os ideais gregos de beleza e da força física, trazendo para os versos tópicos como a justiça, a valentia, a moderação, a magnificência, a magnanimidade, a generosidade, a amabilidade, o bom senso e a sabedoria.
Nestas linhas, apela-se à vida com unhas e dentes, apesar de ser impossível escapar – ou esquecer – a finitude e a temporalidade crónicas:
“Se a morte é inevitável, porque havíamos de acalentar, em vão,
Uma velhice inominável, sentados nessa escuridão pesada
Que é não tomar parte de nada do que é belo?”
O dano causado pela incapacidade de anular as questões a que a existência está sujeita é atenuado através do esquecimento e da bênção, bem como na exaltação do divino:
“Dizer coisas belas sobre as divindades
É o que convém a um homem,
Pois pesará menos a sua responsabilidade.”
Em destaque está sobretudo a disputa competitiva dos jogos – o lema de que o importante é participar não mora aqui -, sempre de olhos postos na vitória, sendo o projecto humano uma demanda pautada pelo risco e pela ousadia, pelo desejo de alcançar a excelência humana – a transcendência. Uma pérola poética com a graça dos deuses gregos.
“O Além é inacessível,
Tanto para quem tem perícia quanto para quem a não tem.
Não o perseguirei. Não faria qualquer sentido.“
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