Nem a gregos nem a troianos. Poder-se-ia, a partir desta expressão retirada à ancestralidade, caracterizar a quase indiferença, mas sobretudo o pouco entusiasmo, com que a figura de Marcello Caetano foi recebida e gravada pela história. Se, por um lado, os partidários do Estado Novo nunca lhe perdoaram o facto de não ter conseguido evitar a queda do Regime, os seus opositores culpam-no por nunca ter sido capaz de reformar o regime no sentido de uma democracia plena, um pouco como aconteceu no país vizinho.
Admirador de Marcello Caetano, o advogado e professor catedrático Luís Manuel de Menezes Leitão decidiu, quarenta anos depois da morte de Marcello, prestar a sua homenagem ao político português, que considera o verdadeiro fundador do Estado Social em Portugal, deixando obra feita nos planos económico, social e laboral. O resultado dá pelo nome de “Marcello Caetano – um destino” (Quetzal, 2014), uma biografia que, segundo Menezes Leitão, tem um cunho muito pessoal e longe da busca pela verdade extrema: «Pretendo apenas apresentar ao público as minhas reflexões pessoais em torno de uma personagem cuja vida assentou sempre num dilema fascinante.»
Independentemente da esfera política em que o leitor se movimente, “Marcello Caetano – um destino” é um interessante retrato de uma das mais contraditórias personagens da história portuguesa que, defendendo a doutrina da limitação do poder político enquanto Professor de Direito Público, tratou de a transformar em pura ideologia quando assumiu as responsabilidades de governante, escrevendo a certa altura que «um governante não pode ser um mero ideólogo que tudo sacrifique à aplicação das teorias que lhe sejam caras.» Algo que, ainda que com resultados longe do esperado, foi tentado pelos governos que lhe sucederam.
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