Foi escrito nos idos anos 80 mas, até hoje e apesar de todo o hype associado à morte precoce e a uma ponta final literária ao nível de um Phelps, “O Espírito da Ficção Científica” (Quetzal, 2017) havia permanecido um inédito. O que, vai-se a ler, não será de estranhar. Apesar de conter alguns elementos daquilo que se viria a tornar uma escrita irrepreensível, este é claramente um romance menor – em tamanho e qualidade – do autor chileno, que apenas vem aumentar, em número, a bibliografia disponível.
A história passa-se durante os anos 70, tendo como protagonistas Jan Schrella e Remo Morán, dois jovens escritores que tentam viver da literatura. Jan e Remo que, mais tarde, serão as estrelas de “Detectives Selvagens”, provavelmente o maior romance e legado deixado por Bolaño – talvez ainda maior que esse monólito chamado “2666”.
“O Espírito da Ficção Científica” é quase um romance de iniciação, feito de retalhos e com uma narrativa algo desconexa, onde se incluem os sonhos dos protagonistas, a sua iniciação sexual e a sua busca, ao estilo de um par Holmes/Watson, de uma misteriosa escritora e musa.
Trata-se de um livro que vale, sobretudo, pelos vários documentos saídos da própria mão do escritor, disponíveis no final da edição, quase um álbum fotográfico feito de notas, textos, rabiscos, desenhos e anotações. O melhor Bolaño não mora decididamente aqui, mas é bonito constatar como Jan e Remo, tão desinteressantes enquanto jovens, se irão tornar criaturas fascinantes na idade adulta. Um tubo de ensaio apenas aconselhado a coleccionadores.
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