Um bem-haja à liberdade de expressão, por acolher irmãmente os intelectuais de direita, gente que vive com o mito de que a maior fasquia de eruditos é de esquerda. Tomemos a liberdade de considerar Rodney Stark inclinado à direita, já que informação sobre a sua ideologia política não abunda. Levar-se-á em conta as seguintes unidades de medida: põe em causa a teoria da evolução (embora não seja um criacionista), é antigo militar do exército dos Estados Unidos e considera-se “cristão independente” (ex-agnóstico).
Em “O Triunfo do Ocidente” (Guerra & Paz), Stark enaltece a história ocidental com um fervor de discurso que podia ter saído de um qualquer comício republicano, apesar de revelar uma pesquisa profunda que se sente na sua convicção crítica, distinguindo-se do neandertalismo muitas vezes associado à direita conservadora americana. Contudo, das inúmeras conclusões da obra, sai muito pouco que seja irrefutável. O objectivo de “O Triunfo do Ocidente” passa por provar que a mais alta estirpe intelectual – e que o progresso do mundo globalizado – se deve exclusivamente à disseminação da cultura europeia. A sensação imediata é de se estar perante uma falsa premissa.
Haver alguma boa intenção, até há, sendo que combater o politicamente correcto, o anacronismo e a demonização genérica do ocidente é uma causa nobre. O problema é ler-se um espelho da agenda política conservadora americana, bem como um espectro competitivo e dominador. Por exemplo, Stark não nutre simpatia pelo Islão, contrariando que a sua era de ouro intelectual (medieval) foi decisiva no molde da cultura ocidental. Nesta linha de pensamento, conclui-se que civilizar o mundo contemporâneo ainda “primitivo” é uma importância de primeira ordem, já que crimes selváticos, sobretudo das culturas africanas e do médio oriente, são prova de um barbarismo ignorante e sádico. Ironicamente, a cultura de guerra imperialista e a Segunda Emenda da Constituição americana são, claro está, mais esclarecidos no que concerne à moral humana. Postas as coisas em evidência, no decurso da obra parece existir dois níveis de barbárie, um deles mais aceitável que o outro. Os feitos intelectuais do ocidente podem ser inegáveis e por demais úteis no quotidiano contemporâneo, mas a superioridade moral, essa sim, é um mito que Stark simplesmente fomenta.
A leitura de “O Triunfo do Ocidente” nunca chega a ser entediante. O autor é objectivo e aquilo que quer validar, valida. É, inclusive, um erudito que se aventura pela história de Portugal. Porém, até aqui, alguns passes de bola são polémicos até para historiadores de bancada, nomeadamente quando considera que a pequena cauda da Europa «só foi completamente independente em 1385, quando João de Avis derrotou os castelhanos e passou a ser D. João I.» Infelizmente, não há nota de rodapé que nos esclareça mais.
Outro grande defeito deste género de historiografia americana, além dos acima referidos, jaz na natureza sumária da obra: encaixa-se tudo da Grécia Clássica até depois da Revolução Industrial com muito ritmo, mas sacrificando qualquer análise profunda, o que só reforça o plano de Stark em provar-nos que estamos errados. Quanto menos informação tivermos, mais aceitamos aquilo que está escrito como verdadeiro. São as regras do jogo.
2 Commentários
“Uma mentira repetida mil vezes…” É difícil desfazer “mitos”! Estão tão arreigados! E são tão convenientes! Esta esquerda nem vendo a verdade acredita nela! Arre!
Análise mto fraca. Como é habitual de uma pessoa afeita à ideologia de esquerda, tenta encaixar todos numa narrativa política, pois não consegue se desvencilhar do seu próprio fanatismo.
Na verdade não se pode dizer isto de “análise”, pois a preocupação é maior com supostos posicionamentos políticos do autor (q o próprio analista nem sabe dizer ao certo) com a obra em si.