Depois de dois anos de orçamentos ao nível de um magnata do petróleo, o Folio – Festival Internacional Literário de Óbidos aperta o cinto e conta as armas para a revolução, já sem a presença de cerejas Nobel ou Man Bookers e, também, sem a curadoria de Anabela Mota Ribeiro e José Eduardo Agualusa. A terceira edição terá lugar de 19 a 29 de Outubro, com mais parceiros e um número maior de países participantes e de cidades criativas a colaborar, tudo em redor de um tema comum: Revoluções.
Granada e Heidelberg – duas cidades criativas da literatura – trazem uma programação que mistura música e literatur,a na secção Folia. Montreal, cidade do Design da UNESCO, terá em Óbidos palco para uma programação no capítulo Folio Autores. A relação com o Brasil ganha novos contornos com uma parceria Folio/FLIP, ao abrigo do protocolo com a EDP Brasil.
No campo das exposições, a Assembleia da República irá apresentar “O Nascimento de Uma Democracia” – a maior exposição de cartazes do 25 de Abril (espólio Assembleia da República, Comissão Nacional de Eleições e Arquivo José Pacheco Pereira) -, o início de uma colaboração que culminará com uma série de iniciativas no âmbito das comemorações dos 200 anos do Constitucionalismo. Já o CCB apresentará uma exposição sobre Arte e Direitos Humanos (Liberdade), um portefólio que reúne 53 obras de alguns dos artistas mais representativos dos principais movimentos artísticos da segunda metade do século XX.
Fica um apanhado de cada uma das secções do Folio. The revolution won`t be televised. Terão mesmo de vir ao Folio.
No Folio autores, estão até ao momento confirmadas as seguintes presenças (por países):
Canadá (Festival Littéraire International de Montréal – Metropolis Bleu): Anaïs Barbeau-Lavalette, Joseph Boyde, Rosemary Sullivan e Patrice Lessard
Croácia (Sociedade de Escritores Croatas): Sibia Petlevski e Ivana Bodrozic
Brasil: Raduan Nassar, Milton Hatoum, Tati Bernardi e António Prata
França: Laurent Binet e Maylis de Kerangal
Hungria: Viktor Sebestyen
Portugal: Valter Hugo Mãe, Mário de Carvalho, Dulce Maria Cardoso, Carlos Querido, Mário Cláudio, Anabela Mota Ribeiro, Manuel Alegre e Vitor Milhazes (e outros autores que integrarão a programação da Fundação Francisco Manuel dos Santos)
Colômbia: Jerónimo Pizarro e Plínio Apuleyo Mendoza
Espanha: Fernando Aramburu, Dolores Redondo, J. A. González Sainz, Mempo Giardinelli, César António Molina e Juan Manuel Bonet (e outros autores que integrarão as mesas da festa literária)
O Folio Folia apresenta onze dias de concertos, exposições, teatro e outras iniciativas. Na música destacam-se: Rodrigo Leão, que apresentará uma nova versão do espectáculo “A Vida Secreta das Máquinas”; a estreia em Portugal do novo espectáculo de Maria João, com a leitura musical da obra do autor brasileiro Aldir Blanc. Aldina Duarte com a participação especial de Carlão; Vitorino e Chullage; Norberto Lobo e Cante Alentejano; Stereossauro e um Grupo de Cantadeiras; Luis Pastor com um concerto com canções de intervenção.
De Moçambique chegará “O Aceitador do Medo”, a maior exposição individual em Museu do artista Gonçalo Mabunda, um dos nomes com maior rasgo e relevância na cena artística internacional. Mabunda, que já viu a sua obra exposta em prestigiados espaços como o Museum Kunst Palast (Dusseldorf) Hayward Gallery (London), Pompidou (Paris), Mori Art Museum (Tokyo) ou a Johannesburg Art Gallery (Johannesburg), destaca-se pelas suas esculturas construídas com arsenal bélico desactivado do conflito que dividiu Moçambique durante 16 anos.
Da Rússia teremos um concerto no âmbito do projecto “Embaixadores da Arte”, organizado pela Representação em Portugal da Agência Federal Russa para a Cooperação Cultural e a Casa da Música de São Petersburgo; cinema com “O Couraçado Potemkine” e “Outubro”, de Serguei Eisenstein, e ainda teatro experimental com a peça “A Pança”, baseada no livro “Os Três Gordos”, do escritor russo Iúri Olecha.
José Saramago continuará a ser celebrado, este ano com o destaque para os 35 anos do “Memorial do Convento” com o espectáculo de rua “Sete Luas” – uma produção criada de raiz por Pedro Giestas para o Folio que animará as ruas de Óbidos durante onze dias com a participação de actores profissionais e a comunidade local.
Gonçalo M. Tavares estará no Folio para leccionar um curso de 12 horas distribuídos por dois dias sobre Revolução tecnológica e outros temas – Poder, política e pelo contrário – curso de literatura, artes e cultura contemporânea. Já Ana Paula Laborinho contar-nos-à mais sobre Camilo Pessanha.
Na programação desenvolvida pelo CLEPUL, o Folio conta com o Professor Ernesto Rodrigues com a triologia António Nobre – Camilo Pessanha – Raul Brandão. Haverá também um debate sobre “Onde, quando e como começa a recepção mundial de Cervantes”. Ou, ainda, um debate com Sandra Patrício, Isabel Lousada e Fátima Mariano a partilhar quem foram Cláudia de Campos, Mercedes Blasco e Adelaide Cabete – três autoras feministas do séc XIX. Dionísio Vila Maior fará uma conferência sobre Futurismo.
Vários ilustradores nacionais e internacionais passarão pelo Folio Ilustra, que repetirá a curadoria de Mafalda Milhões.
Com curadoria de Maria José Vitorino, o Folio Educa assume-se como a secção que pensa a literatura, a educação e a leitura. Entre tertúlias, workshops e muitas iniciativas que incluem a formação de novos leitores e o papel das escolas nesta aprendizagem, decorrerá o 3º Seminário Internacional, que coloca em palco os principais nomes nacionais da Educação – e ainda importantes especialistas internacionais: James Henri (Austrália), especialista em Bibliotecas Escolares e Educação, desenvolvendo projectos dedicados à leitura, às aprendizagens e às bibliotecas escolares na China e no Sudeste Asiático; Jordi Permanyer Bastardas (Espanha, Catalunha), bibliotecário e director dos Serviços da Deputación de Barcelona desde 2008 – destaca-se pela sua visão arrojada das bibliotecas públicas e por acções desenvolvidas na sua promoção; Katy Manck (EUA. Texas), presidente da IASL Associação internacional de biblioteconomia Escolar e bibliotecária; Donatella Lombello (Itália), professora da Universidade de Pádua e Especialista em Literatura para a Infância, com larga intervenção pelo desenvolvimento da leitura e das bibliotecas em Itália; Edgardo Civallero (Espanha), bibliotecário, investigador, professor, escritor, editor, designer, músico e activista – de origem argentina, a viver actualmente em Madrid, destaca-se pela sua intervenção sobre tradição oral e comunidades indígenas e minorias, e a história não europeia do livro. Participa regularmente em publicações online de diversas regiões – Espanha, Ecuador, Argentina, Bolívia, Chile -, sendo membro da Progressive Librarians Guild; Sandie Mourão (Portugal), autora e formadora de professores de inglês, especialista em educação na primeira infância, considera que os livros de imagens (picture books) e o brincar livremente são essenciais para aprender línguas, defendendo o bilinguismo na escola. Publica um blog de referência e participa regularmente em conferências em todo o mundo. Em 2016 recebeu o Prémio English Language da ESU English Speaking Union pela sua obra “Dex”, com co-autoria de Claire Medwell.
No Folio Mais, onde José Pinho surge como coordenador, destaque para a Língua – Bienal de Expressividades Criativas da Língua, Portuguesa – Brasil/Portugal 2018 – uma iniciativa da Associação Portugal Genial presidida por Carlos Coelho. Uma bienal com o objectivo de fazer pontes “linguaristicas” entre os países irmãos de língua.
Lança-se também uma Granta Folio, um dos muitos momentos de programação que terão lugar na Casa Tinta-da-China que promete muita animação – música, conversas, apresentações de livros, tertúlias e a presença de muitos convidados especiais – ao longo de todo o festival.
Contra-revoluções, “Os Serviços Secretos e a Revolução” e a “Revolução Islâmica” serão outros dos temas em debate no Folio Mais.
Haverá também lançamentos de livros como o “Na vanguarda da luta armada”, de Isabel Carmo, e a reedição “O Mal”, de Paulo José Miranda. Ou uma incursão na revolução tecnológica na forma de escrever através da presença de Henrique Monteiro e Pedro Norton do blog “Escrever é Triste”.
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