Nos últimos anos, antes da estranha moda dos Fidget Spinners, tivemos uma outra: a dos livros de colorir vendidos quase como remédios para o stress. Editado recentemente pela Porto Editora em versão “livro para colorir” – e sem qualquer prescrição -, “A Ninfa de Porcelana” (Porto Editora, 2017) foi a única incursão de Isabel Allende neste domínio dos livros de colorir, com ilustrações de Ana Lima.
A história segue a vida de Don Cornelio, um homem tão pontual a cumprir a rotina diária que os vizinhos acertavam os relógios quando o viam passar de manhã. Trabalhava num cartório notarial, “um lugar tenebroso, uma sala empoeirada com uma única janela, que há muitos anos não era aberta“. Ao meio-dia em ponto dava exactamente 90 passos e almoçava um pão com queijo. Não tinha coragem para meter conversa com ninguém, fosse com o Louco, um tipo que ria sem aparente motivo, ou a idosa que alimentava as pombas com bolachas de aveia.
Um dia vê numa montra uma estátua de porcelana chamada Fantasia, de “uma dama roliça mal tapada por um leve tecido de gaze, com um cacho de uvas numa mão e uma pomba branca estrábica na outra” – estátua que o dono da loja descreve como “a gorda de louça“. Decide então comprá-la, desconhecendo que a dona da pensão onde vive a vai julgar indecorosa, ou que o motorista do autocarro se recusará a transportá-la por não ser um camião de mudanças.
Don Cornellio está, porém, decidido a cuidar da sua estátua, que diz falar com ele quando estão os dois sozinhos, mesmo que para isso tenha de virar a vida do avesso – a sua e a dos vizinhos, que deixam de ter os relógios a marcar a hora certa. Uma história sobre a inabilidade social e o desejo de mudança, ideal para os mais pequenos que gostam do mundo da coloração.
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