Há alguns meses atrás, seria difícil acreditar que Walter Benjamin, um dos mais brilhantes filósofos e pensadores que habitou o nosso planeta, se veria transportado para o universo do livro infantil. Porém, apesar de a sua ligação ao universo dos mais novos ser pouco conhecida, ela existiu de forma regular, tendo feito diversos programas de rádio onde contou várias histórias, entre elas a do terramoto de Lisboa em 1755.
“Um Dia de Loucos”, editado este ano pela bruáa – com ilustrações de Marta Monteiro -, foi uma dessas histórias escrita por Benjamin, transmitida na Rádio de Frankfurt a 6 de Julho de 1932 e que consistia num verdadeiro quebra-cabeças – e num poço de adivinhas – para os mais pequenos, onde se notava a apetência de Benjamin para introduzir a filosofia e o desafio ao pensamento sempre que pressentisse uma aberta.
Outro dos títulos que chegou recentemente às livrarias, este assinado por Pei-Yu Chang, é “A Mala Misteriosa do Senhor Benjamin” (Nuvem de Letras, 2017), baseado na fuga de Walter Benjamin da Alemanha quando o regime nazi tomou o poder. Uma fuga que contou com a ajuda da Senhora Fittko.
Nascida em 1940, esta austríaca foi encarcerada num campo prisional para mulheres por ter lutado ao lado da Resistência contra o regime de Hitler. Quando conseguiu escapar, juntou-se ao Comité de Resgate de Emergência, ajudando pessoas a escapar da Alemanha através dos estreitos caminhos dos Pirinéus até à fronteira com Espanha. Estima-se que, ao longo de sete meses, terá escalado montanhas a mais de 3350 metros de altitude, tendo este trajecto – conhecido como a F-Route – ajudado a salvar a vida de cerca de 80000 pessoas.
O livro inspira-se na fuga de Benjamin e companheiros que, na realidade, conseguiram atravessar a fronteira entre a França ocupada e Espanha, deparando-se com o cancelamento de todos os vistos pelo governo de Franco. A história conta que Benjamin, confrontado com a possibilidade de ser entregue às autoridades nazis, se terá suicidado – outros defendem que terá sido assassinado -, tendo os restantes membros do seu grupo sido autorizados a cruzar a fronteira no dia seguinte.
Pei-Yu Chang consegue recriar esta história sob a forma de um livro de aventuras e mistério, onde Benjamin, apesar das recomendações da organizadora da fuga, decide levar uma pesada e misteriosa mala. Após o seu desapareciment, muitos são aqueles que querem saber o que nela se esconderia. Seria “a melhor ideia filosófica de todos os tempos“? “Um manuscrito sobre a grandiosa história da fotografia“? “Uma arma voadora de guerra que se transforma num submarino“? Caberá aos mais pequenos fazer a sua própria investigação, elaborando uma lista das coisas que Benjamin queria a tanto custo levar através de uma perigosa e longa travessia. Mais tarde, poderão conhecer o verdadeiro tesouro literário legado por Walter Benjamin ao mundo.
Este é o primeiro livro para crianças de Pei-Yu Chang, que estudou língua, literatura e cultura alemã em Taipé (Taiwan) e ilustração em Münster (Alemanha). Aqui utiliza técnicas várias, que vão dos recortes e colagens ao uso do papel quadriculado, para lá de diversos jogos e tamanhos de letra. Walter Benjamin nunca foi tão cool.
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