Para aqueles que se interessam pela história das cores, Michel Pastoureau será, sem qualquer sombra de dúvida, mestre e senhor. Director de estudos na École Pratique des Hautes Études, onde ocupa a cátedra de História da Simbólica Ocidental, Pastoureau é um dos maiores especialistas na simbólica das cores, tendo publicado diversos títulos entre os quais se encontra, por exemplo, um dicionário – “Dicionário das cores do nosso tempo” – e dois títulos dedicados a cores individuais: o verde e o azul.
“Preto – História de uma cor” (Orfeu Negro, 2014) é um verdadeiro tratado de Pastoureau sobre uma cor que, entre o fim da idade média e o século XVII, perdeu progressivamente o estatuto de cor. Durante quase três séculos, tanto o preto como o branco foram pensados e vividos como “não-cores”, formando em conjunto um universo muito próprio, contrário ao das outras cores: a “preto e branco”, de um lado, “a cores”, do outro. Distinção que, nos dias de hoje, apenas encontra resquícios na fotografia, no cinema ou na imprensa.
Cor das trevas e da morte, o preto é também conotado como um símbolo de dignidade e autoridade (juízes, árbitros…). A sua simbologia ambivalente acompanhou as evoluções culturais da Europa, seduzindo piratas, monges, artistas ou costureiros. Associado ao pecado e ao inferno pelo cristianismo, perdeu o estatuto muito por culpa das experiências de Newton e da invenção da imprensa, sobrevivendo por via do exotismo, no culto romântico da melancolia e na paixão nutrida por poetas e dandys, triunfando nas artes do século XX ao se converter na cor por excelência da elegância e da modernidade. No princípio era o escuro, conta-nos Pastoureau, no início de um magnífico livro sobre a cor mais simbólica – e representativa – dos dias em que vivemos.
1 Commentário
Para ser um pintor
vá buscar a luz
na teoria das cores de goethe
pois na técnica do artista
a cor apieda-se do mundo
diante de tanto realismo
e à maneira da arte
reveja seu olho aflito
pois habitamos na vizinhança
deformadora da realidade
e que nos salve adiante
a cor mais sentida e distante
azul luminoso do preto
na luz refletida
que às vezes é visto de branco
sob luz transmitida.