Continua o show de bola Vinicius de Moraes na Companhia das Letras portuguesa. Depois de “Antologia Poética“, “Para Viver Um Grande Amor” e “Orfeu da Conceição“, chega agora a vez de “Livro de Letras” (Companhia das Letras, 2017), um livro que se lê e ouve como uma banda-sonora e que representa a mais completa antologia das letras das canções escritas por Vinicius, a solo ou em parceria com nomes como Antonio Carlos Jobim, Baden Powell, Lyra ou Toquinho.
Vinicius foi o responsável maior por ter dado voz e novo alento aos letristas brasileiros, num percurso de vida que foi da poesia do livro à poesia cantada e, também, do sublime ao trivial. Ele que, mais do que parcerias laborais, estabeleceu verdadeiras relações de amizade, fazendo da música e da poesia uma celebração.
Nestes versos escreve-se sobre amor e brigas, dor e lágrimas, luz, céu e mar, adeus e reconciliação, sempre como uma tristeza que parece não ter fim e que, talvez por isso, esteja tão próxima da felicidade, ao depositar-se o coração em mãos alheias sem pensar duas vezes no perigo de este acabar em cacos.
Para além das letras, o livro reúne um posfácio de Paulo da Costa e Silva, uma extensa discografia e uma muito bem resumida cronologia, para além de textos de José Castello – “Um poeta bem acompanhado” -, Eucanaã Ferraz – “Uma meta ascendente para o infinito” – e do nosso Alexandre O’Neill, que aquando da passagem de Vinicius por Portugal no ano de 1969 escrevinhou estas belas linhas: “O show português de Vinicius restabeleceu muita comunicação que havia se perdido, ajudou muita gente a redescobrir que a existência não é só uma chatice e que amar o próximo não é só um preceito para ensinar aos filhos na catequese“.
“Quem já passou
Por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá
Pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou
Pra quem sofreu, ai
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não
Não há mal pior
Do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir?
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão”
(Letra de “Como Dizia o Poeta”
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