“Esta história começa com um REI.
O nome deste Rei era Dom Chato.
pois fazia sempre tudo da mesma maneira.”
Reza a história que, num daqueles reinos que não aparecem nos mapas ou sequer nos livros de Geografia, havia um Rei que fazia sempre tudo da mesma forma – e que, talvez por isso, tenha recebido uma alcunha talhada letra a letra mesmo à medida: Dom Chato.
A verdade é que o Rei mantinha uma rotina diária que não admitia o mais pequeno desvio: calçava sempre a bota direita antes de calçar a esquerda – provavelmente um gesto aprendido com a entrada dos jogadores de futebol em campo -, penteava-se sempre à mesma hora e com o mesmo pente, escutava sempre a mesma e muito triste sonata para piano. Um dia, farta de uma rotina que a fazia sentir-se como o Bill Murray em “Groundhog Day”, a Dona Cristina atirou bem alto um “Basta!”, mudando de forma inesperada a vida de um reino que então se sentiu preparado para uma revolução: o burro deixou-se de zurros e passou a uivar; o foguetão decidiu desafiar a gravidade; até os bebés se juntaram à vontade de mudança parando de gritar. O rei, esse, não queria acreditar e só conseguia dizer: “Aqui Há Gato!” (Orfeu Negro, 2017).
Nesta história escrita por Rui Lopes, Renata Bueno – arquitecta e artista visual – cola, desenha e inventa tendo por matriz os aparentemente imutáveis e muito chatos códigos de barras, mostrando que a mudança e a criatividade despontam nos lugares e objectos mais inesperados. Aqui, os códigos de barras servem mesmo para tudo e estão em toda a parte: na coroa do rei, em atacadores de sapatos, nos pelos de um pente, nas teclas de um piano clássico. E tudo desenhado a preto e branco, cabendo ao laranja surgir a espaços como cor a de fundo ou em letterings bem trabalhados. A moral, se é que a há, não podia ser mais certeira: por vezes – muitas – é bom experimentar fazer as coisas de forma diferente.
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