Retratos de Jovens Senhoras, de Edward Caswall (publicado originalmente sob o pseudónimo de Quiz, em 1937), abre a primeira parte deste livro de retratos intitulado “Retratos de Jovens Senhoras, Cavalheiros e Casais” (PIM! Edições, 2017). Redireccionando a genialidade demasiado investida em classificações do reino animal e vegetal para o reino feminino, é também possível, segundo Caswall, estabelecer uma classificação universal das senhoras, sem elencar nenhuma em particular.
Temos a jovem senhora estúpida que sabe que o é, a jovem senhora interessante que nas festas permanece inacessível e entalada entre duas matronas, ou a senhora romântica, em adoração constante à lua, ao mar e às estrelinhas, mas que cede ao senso comum a partir dos 21 anos. Caswall apresenta-nos breves retratos das senhoras e as suas características peculiares, que maximizadas evidenciam o ridículo da espécie aos olhos dos cavalheiros – que, apesar disso, não vivem sem as senhoras e a sua procura.
Retratos de Jovens Cavalheiros, de Charles Dickens (publicado em 1938 sob o pseudónimo de Boz), surgiu em resposta aos retratos femininos pouco valorativos de Caswall. Na segunda parte do livro e num registo mais longo – mas não menos vívido e cómico -, os retratos de Dickens figuram-se como um manual de tutoria para as senhoras lidarem com os cavalheiros e prevenirem-se dos efeitos secundários dos mesmos, “sendo a prevenção em todos os casos preferível à cura, como nos sugere não apenas o conhecimento geral, mas também a sabedoria tradicional”.
O jovem cavalheiro tímido, um desastrado. O jovem cavalheiro muito simpático, um adulador em toda a parte. O jovem cavalheiro poético, um iluminado de metáforas não acessíveis aos comuns não-poéticos. No fundo nenhum dos cavalheiros é recomendado, e o ideal é que reúnam o máximo de qualidades de cada estirpe, e aí ser levado para o casamento – se não a bem, então obrigado. Há que evitar, no entanto, o surto de matrimónios aflorados pelo noivado da rainha Vitória com o Príncipe Alberto.
Na terceira parte, os jovens casais e os seus galanteios são igualmente observados por Dickens: o casal apaixonado que se torna insuportável, o casal contraditório unido apenas pela contradição mútua, ou o casal egocêntrico que passou por tudo na vida menos pela morte.
Os retratos deste livro, a que se juntam as ilustrações de Phiz, são um recorte sagaz dos costumes vitorianos. A dissecação dos sexos, a relação entre os géneros, os preceitos das condutas sociais, são aqui singularmente satirizados. E, se falamos de tipologias, é provável que qualquer um identifique em si ou nos outros um ou outro maneirismo. Afinal, o ridículo do comportamento humano é intemporal.
Sem Comentários