Para os seguidores de Eduardo Mendoza, particularmente do cabeleireiro e investigador que foi protagonista de livros como “O mistério da cripta assombrada”, “O labirinto das azeitonas”, “A aventura do tocador de senhoras” e “O enredo da bolsa ou da vida”, 2017 é ano de festa e do lançamento de “O Segredo da modelo perdida” (Sextante, 2017). Para os outros, leitores que nunca antes se tenham deparado com um livro de Menzoza, este será um fantástico ponto de partida.
Tudo começa com a mordedura de um cão na barriga da perna de um entregador de comida chinesa, fundado “por uma família modelar no local outrora ocupado por um modesto negócio gerido por mim, a saber, um cabeleireiro piolhoso no sentido figurado e não figurado do termo“.
A partir desse infeliz encontro com um duplo maxilar canino, o protagonista irá viajar no tempo – e na memória – até aos anos oitenta e a uma Barcelona que, segundo ele, não passava de uma “porcaria”, tentando solucionar um caso de assassinato pelo qual foi culpado e encarcerado: o de Olga Baxter, uma estonteante modelo que teve um trágico destino.
Entre a sátira, o absurdo e uma escrita fulgurante, Mendoza oferece, para lá de uma trama muito bem urdida, uma galeria de personagens para mais tarde recordar, como o senhor Linier, dono dos electrodomésticos Linier y Fornells, que trocou uma mulher de 60 por uma de 20 (mas com o mesmo nome para não se confundir), ou a menina Westinghouse (que escolheu por engano o nome de um electrodoméstico), um travesti com um sui generis cartão-de-visita: Menina Westinghouse, fazem-se jobs ao domicílio.
Faz-se muito footing – qualquer coisa entre o jogging e a corrida em fuga -, assiste-se à falência da imprensa escrita e sobretudo da rádio, reza-se à Virgem (seja a Virgem dos Punhais, a Virgem de Valvanema ou a Virgem Negra de Czestochova) e assiste-se ao nascimento de Barcelona como a cidade da moda. Tudo com muita emoção, humor e, sobretudo, génio. Um livro que é uma verdadeira festa para o leitor.
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