Contrariando a moda do género fantástico, onde saga que é saga tem de ter pelo menos três livros, Guy Gavriel Kay criou em Tigana um épico de livro único que, na edição portuguesa, foi editado em dois volumes. Um pouco à semelhança do que tem acontecido com as Crónicas do Gelo e do Fogo que, se tudo correr bem e George R. R. Martin não nos der qualquer desgosto, chegará aos 14 livros na edição nacional.
Em “Tigana – A voz da vingança – livro dois” (Saída de Emergência, 2014), o Príncipe Alessan e os seus companheiros de demanda puseram em marcha um plano muito arriscado para unir a Península de Palma, quebrando a maldição que foi levantada em relação a Tigana – a sua terra natal – mas, sobretudo, acabando com os regimes despóticos de Brandin de Ygrath e Alberico de Barbadior, que vão mantendo uma paz consentida – uma espécie de Tratado de Tordesilhas imaginário – à espera que um deles decida dar o primeiro passo para a inevitável guerra.
Brandin é um rei implacável e maquiavélico, que encontrou em Dianora, uma mulher que muitos julgam morta, uma fonte de beleza que lhe impõe, mesmo sem que o exigir, alguma contenção; quanto a Alberico, é um rei despótico consumido pela ambição que, de tanto olhar em frente na direcção de um espelho muito maior que o seu ego, não vê as muitas ciladas que se vão montando ao seu redor.
Mais do que uma dose bem servida de fantasia, Guy Gavriel Kay oferece em Tigana uma narrativa carregada de sombras e poesia, com personagens de carne e osso que vivem dilemas pessoais, preparam estratégias e alimentam vinganças, tentando cumprir um sonho impossível.
A prosa de Kay é sublime, construindo uma história cativante sobre exílio, amor e lealdade, num épico na tradição de Tolkien da qual Kay é, sem dúvida, um dos maiores herdeiros. O mapa fantástico ganhou com Kay uma nova e inesquecível terra: Tigana.
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