No caso de Mário Zambujal, pode dizer-se que à primeira foi de vez. “Crónica dos bons malandros”, livro editado em 1980 – e que marcou a estreia do autor nos caminhos da Literatura -, tem cativado sucessivas gerações de leitores, chegando ao cinema com a adaptação de Fernando Lopes.
Trinta e quatro anos depois da estreia – e com muitos outros títulos pelo meio -, Mário Zambujal continua em boa forma, com um estilo de escrita muito particular que mistura a poesia do quotidiano com a ironia sentimental, revelando um humor que tem sabido envelhecer com o tempo, como se estivesse a marinar numa pipa.
“Serpentina” (Clube do Autor, 2014) conta a história de Bruno D.L. Bracelim, um rapaz ingénuo mas com atrevimento, que gosta da pontualidade mas admira a transgressão. Há muitos anos atrás, quando faltavam poucos dias para chegar às sete primaveras, viu a família emigrar para o Canadá, ficando entregue – bem como a sua enfermidade – à madrinha Henriqueta, com quem cresceu.
Solteiro e bom rapaz, Bruno passa as noites no terraço de sua casa, até que se deixa embalar pelos contornos de uma esguia figura de mulher, dando azo à sua obsessão de encontrar uma mulher ainda mais bela que Garbo mas que não traga consigo o “senão”, contrariando dessa forma o velho ditado popular.
A caminho de um encontro de negócios, Bruno vê-se quase atropelado por um jipe, conduzido por uma mulher enigmática e bela, envolvendo-se numa trama onde cabem gangsters, gestões danosas, sacos de dinheiro extraviados e estranhos reencontros familiares.
Mário Zambujal escreve com mestria, brincando com a língua portuguesa – e as outras – como ninguém, tratando de inventar estrangeirismos que teriam certamente lugar num Acordo Ortográfico para Humoristas e gente bem-disposta. Lê-se de uma vez só e de sorriso nos lábios. O Carnaval chegou mais cedo.
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