Se perguntamos a alguns habitantes dos quatro cantos do mundo sobre aquilo a que associam o nome de Portugal, para lá do triângulo dos 3 F`s, da cortiça e dos pastéis de nata, o reconhecimento chegará, muito provavelmente, através de um néctar dos deuses produzido a norte do país: o Vinho do Porto.
“Dicionário Ilustrado do Vinho do Porto” (Porto Editora, 2014) conta, de A a Z e sem recurso à ordem cronológica, a história de um produto que, palavra de autores, «mais do que um simples vinho (…) é uma instituição nacional e tem a capacidade de representar um povo.» O português, claro está.
O Vinho do Porto ocupa um lugar de honra no cenário vinícola internacional, para além de, ao longo do tempo, ter sido referenciado em áreas tão díspares como a Sociologia, a Economia, a Literatura ou a Arte. Inovou com o pioneirismo de ver a sua região produtora ser demarcada e, para a história, ficou como um dos primeiros vinhos do planeta a utilizar uma garrafa de vinho.
Não é fácil, porém, a produção de um vinho que nasce em terrenos conquistados pelo homem, revelando-se a colheita das uvas como um acto misto de teimosia e coragem. «…O homem do Douro, com trabalho, luta e paciência, fez a maior escultura a céu aberto que conhecemos: criou o Douro vinhateiro, onde terraços esculpidos nas encostas das montanhas servem de moldura para o rio que corre lá em baixo.»
O Dicionário resulta de um trabalho de pesquisa de cinco anos levado a cabo por Manuel Pintão e Carlos Cabral, registando um grande número de eventos relevantes no Vinho do Porto e na sua história com já mais de 300 anos: os regulamentos estabelecidos ao longo do tempo (condicionantes da produção e do comércio); os locais de produção; os termos utilizados na vitivinicultura na região do Douro; os vocábulos e nomes das ferramentas de tanoaria; as personalidades ligadas ao sector do Vinho do Porto.
Há, porém, muito mais do que o simples registar de acontecimentos. Através da fotografia, do desenho e da ilustração, olham-se os rostos que trabalham a terra, as pessoas que fizeram do Vinho do Porto a sua bandeira, as paisagens deslumbrantes que acolhem o néctar, as casas que o produzem – ou produziram – e, também, percorre-se um pouco da evolução da comunicação e do marketing associados à venda do Vinho do Porto, traduzida através dos muitos rótulos que povoam o dicionário.
Para pesquisadores, historiadores e curiosos, este é um livro fascinante – claramente um vintage – que poderá ser folheado ao acaso, de preferência tendo um cálice por perto.
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