O desafio partiu da Ordem dos Psicólogos – e da campanha “Encontre uma saída” – e foi colocado a oito escritores portugueses: explorar as fronteiras múltiplas e ténues que definem a saúde psicológica e o que dela nos afasta. O resultado dá pelo nome de “Uma dor tão desigual” (Teorema, 2016), um livro atravessado pelas ideias de perda, solidão, fraqueza, delírio, esperança e humanidade.
Afonso Cruz fala-nos da “Síndrome de Diógenes”, trazendo-nos aquela que é uma das personagens recorrentes dos seus livros: Isaac Dresner, um tipo que criava ou encontrava museus que, normalmente, mudavam a vida das pessoas (às vezes para pior). É o caso do Museu dos Objectos Inúteis, enchido aos poucos com lixo e que tinha na recepção Abdul-Rahman, um homem diagnosticado com a Síndrome de Diógenes e mestre de muitos escritores sem imaginação. “Ouço a alma dos objectos que teimosamente não os abandona.”
Em “A Outra Metade”, Dulce Maria Cardoso escreve “sobre o momento em que o olhar dos outros fica a contaminar o nosso como um vírus maligno.” Um conto onde assistimos à criação de um outro “eu”, fictício mas mais forte que o “eu” real.
Gonçalo M. Tavares apresenta-nos a “Josef”, um homem que tem a planta da casa na planta do pé, um mapa precioso para quando se perde (o que acontece com demasiada frequência).
Em “Jaca”, Joel Neto escreve que “não há fatalidade como a hierarquia“, fazendo desfilar uma morte que, três décadas depois, ainda é servida sem falhar a todo e cada santo Natal.
O conto mais pesado tem a assinatura de Maria Teresa Horta, lançando uma questão pertinente numa história que é, toda ela, sobre o desafecto, o desamparo e a crueldade materna: “Afinal, qual é a diferença entre aquilo que se lamenta e a realidade que recusa a cumprir-se enquanto exaltação e fogo?”
Em “Jogo Honesto“, Nuno Camarneiro escreve sobre a perda, apresentando-nos a uma personagem com um longo e negro historial estatístico: “Tenho trinta e nove anos e fui a doze funerais, carreguei cinco urnas e chorei por sete vezes. Tenho trinta e nove anos e a minha mulher deixou-me.”
Patrícia Reis mostra-nos um ataque de pânico dois meses após uma separação, por alguém que vai mantendo um diálogo surdo – ou um monólogo deprimente – com uma psicóloga. Um lugar onde habita o desamor ou o amor sem sal: “O Jaime é alguém que não me faz feliz, mas também não me faz infeliz.”
A fechar, Richard Zimmler aborda a impenetrável relação entre um pai e um filho, mostrando que a esperança e os novos começos podem acontecer em qualquer momento da linha temporal.
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