Preto, branco, cinzento, vermelho, amarelo e branco. A partir destas seis cores, Rachel Caiano pega na história de Sandro William Junqueira para desenhar “A Grande Viagem do Pequeno Mi” (Caminho, 2016), uma aventura visual e poética onde se pode escutar o som do vento ou ouvir as plantas e as flores a crescer.
“Mi deu-se conta de que perdera algo.” Procurou em lugares tão bons para perder coisas como o são uma torradeira, os bolsos das calças ou atrás das portas. É claro que ajudaria saber aquilo de que está à procura, mas nem sequer pode contar com qualquer ajuda familiar: “O pai estava a pescar no Alasca. A mãe a colar selos em cartas.”
A solução parece simples. Se não está em casa, o mais provável é estar caído num passeio qualquer. Mi sai então para a rua, dando de caras com as coisas mais incríveis: uma rã que ensinava a bater palmas em silêncio; um porco entretido a resolver equações matemáticas; um búfalo vestido e a lambuzar-se com esparguete. Até que, de repente, se dá conta de que afinal não havia perdido nada – ou reencontra o “objecto” perdido em óptimo estado e ainda mais brilhante.
Sandro escreve de forma poética – “Dos seus ramos nasciam todos os pássaros” -, numa escrita visual que casa com a alma cinéfila de Rachel Caiano, que desenha como ninguém os rostos humanos, os olhos, a chuva e a vegetação. E tudo com apenas seis cores – ou cinco mais uma ausência. Uma bonita homenagem a uma das maiores e mais empolgantes faculdades humanas.
1 Commentário
Já conheço o escritor como ficcionista para leitores mais maduros, não sabia que também estendera a sua arte, assumo escreve muito bem, para os mais jovens