Será sempre um exercício arriscado escolher o melhor jogador de futebol de todos os tempos. Porém, se à qualidade futebolística juntarmos um comportamento fora das quatro linhas capaz de encher páginas de revistas cor-de-rosa, aí a escolha irá recair certamente no argentino Diego Armando Maradona.
“A Mão de Deus” (Vogais, 2016), a autobiografia de Diego Armando Maradona – que contou com a ajuda e redacção de Daniel Arcucci -, centra-se na épica cavalgada da selecção argentina que, apesar de ter chegado ao México com a cotação verdadeiramente em baixa, acabou por se consagrar campeã do mundo no ano de 1986.
O livro mostra-nos um Maradona sem freio, seja para denunciar o reinado tentacular da FIFA – “Blatter, a dado momento, preparou Platini. Mas não para o ensinar a ser dirigente. Para o ensinar a roubar.” -, para falar de Bilardo como um treinador banal ou para rejeitar qualquer arrependimento por ter marcado um golo com a mão que ajudou a mandar os ingleses para casa – “Desse golo com a mão não me arrependo, de todo.”
Acompanhamos o percurso da selecção argentina nos tempos em que se vivia uma guerra entre bilardistas e menottistas, guerra essa que se reflectia na forma de os jogadores estarem em campo e nas próprias convocatórias. Apesar de preferir Menotti, Maradona apoiou sempre Bilardo, pois acreditou que a estabilidade seria o mais desejável. Ainda assim assistimos às batalhas travadas pelos jogadores argentinos contra o treinador, nomeadamente em relação à marcação de jogos particulares em lugares inóspitos e que pouco pareciam ter a ver com a preparação para um Mundial.
Não falta a referência aos ódios de estimação de Maradona – Passarella e Bilardo – ou o momento difícil em que Goikoetxea lhe partiu selvaticamente a perna, algo apenas ultrapassado graças ao médico Loco Oliva e a estranhos mas muito eficazes métodos de recuperação. Um livro que acompanha, com um pequeno álbum fotográfico, a caminhada de sonho de Maradona que, em 1986, levou a selecção argentina às costas – e na palminha da mão – rumo à conquista do campeonato do mundo. Ele que, para além do polémico golo marcado aos ingleses, apontou também o melhor golo de todos os tempos marcados em Mundiais, onde fintou mais de meia equipa inglesa e sentou um desolado Peter Shilton.
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