Autor sobretudo reconhecido no Brasil, José Ewerton Neto traz-nos, em “O ofício de matar suicidas” (artepaubrasil, 2015), uma história que discorre, com humor negro e sarcasmo, sobre os pensamentos interiores de alguém que, numa tentativa de mudar de vida, coloca um insólito anúncio no jornal, apresentando-se disposto a pôr fim à vida a quem quer conhecer a Morte mas não tem coragem para o fazer por si próprio.
O modus operandi do ajudante de sofredores é sempre o mesmo: dirige-se às vitimas tomado por um pavor inicial, que o leva a hesitações frequentes, acabando sempre por encher-se de coragem e concretizar a tarefa a que se predispões. Muitas vezes fá-lo nem que seja apenas por amor próprio, visto que não tolera que a sua audácia seja questionada mesmo por aqueles que apenas querem ver a Morte pela frente. Serão esses mais corajosos do que ele próprio?
Cumprido o seu dever, o matador de suicidas acaba por se convencer de que está a fazer um favor à Humanidade, e que será recompensado por isso. Além disso, o narrador intimamente acaba por admitir: tinha ganho prazer em matar.
José Ewerton Neto debruça-se permanentemente numa análise a cada vitima, trazendo para o texto pensamentos do narrador sobre o lugar da mesma na sociedade, tecendo juizos de valor – e levantando outras questões morais – sobre as razões que a levam a pôr fim à própria vida. Ao longo das pouco mais de cem páginas do romance verificamos que o tipo de vitimas são pessoas totalmente diferentes, dos mais variados contextos sociais e, seguramente, a selecção do narrador- acreditamos nós – não foi por acaso.
Embora o contexto seja depressivo e obscuro, José Ewerton Neto tem o mérito de transformar este romance policial numa narrativa mergulhada num humor negro, que permanece até à última página.
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