“Há cem anos, o foco da maioria dos investidores centrava-se sobretudo no lucro. Mas, com o passar do tempo, e depois de acontecimentos como a Grande Depressão, houve um reconhecimento de que os investidores também precisavam de apostar no risco. Hoje, o elemento do impacto social está também a ser injectado na abordagem do investimento. O investimento de impacto social é uma ponte entre o negócio tradicional e a filantropia – e entre o retorno financeiro e o benefício social.”
O empreendedorismo muda constantemente com a evolução tecnológica: é um facto inegável, alguns diriam mesmo que é evidente. São inúmeros os aparelhos tecnológicos, com ligação à Internet, que circulam nas mãos de milhares de utilizadores em qualquer parte do globo. Em telemóveis, computadores ou consolas de videojogos é essencial existir um meio de ligação à realidade digital, sem se uma dar atenção prioritária às novas funcionalidades implementadas. Com novos lançamentos, as novas tecnologias tornam-se cada vez mais numa extensão do ser humano. “A Terceira Vaga” (Clube do Autor, 2016) de Steve Case, um dos fundadores da AOL, é um relato das suas ideias revolucionárias à época – nos anos 80 eram poucos os americanos que utilizavam a Internet ou acreditavam na sua evolução como uma realidade presente no dia-a-dia da maioria das pessoas –, com ensinamentos para novos empreendedores aplicarem às suas ideias de negócios ou para meros leitores conhecerem a evolução e conselhos úteis sobre o universo digital que se encontra à distância de um clique.
Walter Isaacson, autor do bestseller “Steve Jobs”, começa por recordar a persistência de Case em anunciar a Internet como uma forma de manter as pessoas em comunicação e unidas. Numa altura em que apenas 3% dos americanos estavam online, o autor acreditava no domínio digital como algo que “não iria tratar apenas do conteúdo e comércio” e colocava a sua aposta nas pessoas para tornar a Internet presente no dia-a-dia. Esta convicção, que soa quase como uma ideia distante e vulgar, sem qualquer tipo de inovação, acabou por ser determinante para a construção da realidade digital tal como a conhecemos hoje. A AOL, considerada como uma das empresas impulsionadoras da revolução digital, surge com um olhar atento à inclusividade, num momento em que “a Internet era o espaço de trabalho e o recreio de meia dúzia de viciados em computadores”, e foi neste conceito de comunidade que se formou uma força revolucionária e inspiradora para a criação das redes sociais dominantes em todo o mundo, como o Facebook, o Instagram ou o Twitter.
Antes de iniciar o relato da sua experiência, Steve Case começa por explicar a divisão da História Contemporânea por três vagas da Internet: a primeira surgiu em 1985 e durou até 1999, reconhecida por ser uma fase de construção do mundo online; a segunda que vai de 2000 até 2015, com a revolução dos telemóveis a economia das apps motivadas pelo desejo de união e comunicação entre os utilizadores; por fim a terceira vaga, ainda por concretizar, em que a conectividade permite a novos empreendedores transformarem sectores do mundo real. Durante a primeira vaga, os esforços do autor em criar uma empresa com serviços digitais e que incluíssem a sua ideia de união entre utilizadores acabou por falhar mais do que uma vez.
Tal como acontece tantas vezes na literatura, em que um autor consegue chegar ao sucesso com uma obra, depois de tantas que passaram despercebidas pelo público – o caso de Paula Hawkins com “A Rapariga no Comboio” ou com J. K. Rowling, que alcançou o sucesso milionário com a sua primeira saga – a ênfase dada ao erro, em que é necessário ir ao fundo e ter um processo de aprendizagem, é uma das lições mais importantes desta Terceira Vaga.
É com base na sua experiência conturbada, nos primeiros anos de carreira, que o autor dá a conhecer a teoria que se revelará essencial para o fio condutor do livro: são as lições obtidas com a primeira vaga que vão determinar as empresas da terceira vaga (“A Terceira Vaga da Internet não será definida pela Internet das Coisas; será definida como a Internet de Todas as Coisas. Estamos a entrar numa nova fase de evolução tecnológica, uma fase em que a Internet será completamente integrada em todas as componentes da nossa vida […]”). Ainda há muitos sistemas, nos Estados Unidos, que precisavam de um renovação e até mesmo remodelação: a indústria da alimentação e o sistema de educação são os dois exemplos indicados do autor para dar força à sua teoria.
São as ideias pulsantes e inovadoras para a época que enchem “A Terceira Vaga” de um olhar sempre virado para a frente. O relato de Steve Case é feito de passado e futuro, em que aconselha os novos empreendedores a trabalharem as suas ideias em consonância com os sistemas legais – especialmente o Governo americano – e com a evolução tecnológica. Esta obra está longe de ser puramente técnica, com teorias científicas a fundamentarem o texto, ou de ser unicamente uma biografia: é um testemunho encorajador, de um dos homens mais destemidos da sua época, em que a realidade digital estava ainda longe de fazer parte do dia-a-dia das empresas e de todas as famílias. Cabe agora ao leitor escoar as suas ideias.
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