Para muito bom leitor, Paul Bowles (1910-1973) será sempre o tipo que escreveu “O Céu que Nos Protege”, um livro fabuloso que deu origem a um filme medíocre realizado por Bernardo Bertoluci. Porém, mantendo aceso o espírito de serviço público, a Quetzal continua a editar a obra deste fundamental escritor norte-americano. Depois de “Viagens” e “A Casa da Aranha“, títulos que inauguraram uma série dedicada a Bowles, chegou este ano às livrarias mais uma preciosidade: “À Beira da Água” (Quetzal, 2016), o primeiro de dois volumes que reúnem a totalidade dos seus contos.
Em 29 contos, que percorrem uma linha temporal situada entre 1946 e 1964, encontramos muitos dos cenários que compõem os seus romances: crime, drogas, enganos, perigos, uma geografia que pulsa e consegue provocar um eco cinéfilo aos olhos do leitor. No ar há uma constante tensão, uma espera pelo instante em que o drama surge, muitas vezes de forma cruel e perversa. Perversidade que é, aliás, outro sentimento que envolve a escrita de Bowles, embrulhada numa escrita concisa, melancólica e sempre poética.
Assiste-se também à eclosão de dois mundos interiores que, mesmo que possam partilhar alguns fragmentos, serão sempre inconciliáveis. Uma porta escancarada para o enigmático e fascinante mundo de Paul Bowles.
“Tinha medo da noite por não conseguir dormir; não tinha medo da vida nem da morte porque não se sentia minimamente envolvida em qualquer uma delas.“
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