De entre todas as peças de vestuário, há uma que parece ter o dom da ilusão, desaparecendo da vista quando menos se espera ou, normalmente, quando o tempo é escasso e a porta de casa espera impacientemente aberta. Falamos do sapato – ou de um par deles -, esse objecto que parece ter vida própria, escondendo-se nos sítios mais improváveis onde ninguém se lembraria de procurar – como na sapateira ou no armário onde vivem os sapatos.
Publicado pela primeira vez em 1964, “Onde está o meu sapato?” (Kalandraka, 2014) inicia leitores e pré-leitores na busca de um objecto perdido – o sapato, pois claro – que, nestas páginas, surge com uma camuflagem de fazer inveja ao mais destemido e aventureiro comando.
Tomi Ungerer propõe ao pequeno leitor um jogo visual muito simples: para encontrar o sapato perdido terá de procurar nas formas, esquadrinhar os detalhes, analisar à lupa os cenários que rodeiam as personagens.
As ilustrações usam cores básicas e muito vivas, incitando o leitor ao jogo da descoberta e da variedade, já que no que a calçado diz respeito há desde ténis desportivos a elegantes sapatos de salto altos.
Nascido em 1931 em Estrasburgo, Tomi Ungerer teve uma infância atravessada pela melancolia e pelo negrume, com a morte do pai quando tinha quatro anos e, antes dos dez, com a ocupação nazi na Alsácia durante a II Guerra Mundial, que o obrigou a estudar em alemão.
As suas primeiras ilustrações têm por isso um grande cariz bélico, reflectindo a sua oposição à guerra e ao fascismo, algo que é ainda visível – mesmo que de forma ténue – neste “Onde está o meu sapato?”.
Prepara-se então o pequeno leitor – leitura recomendada para catraios a partir dos 2 anos – para uma colorida e muito divertida caça ao sapato, em cenários onde vivem espantalhos rodeados de corvos, navios deslizam em alto mar e porcos, crocodilos e outros animais desfilam em passerelles coloridas.
Sem Comentários