Vanessa de Oliveira Godinho nasceu em Praia, Cabo Verde, no ano de 1974. Olhando apenas para sua formação académica e andanças profissionais, poderíamos ser levados a pensar que estaríamos diante de uma personagem com um humor pouco refinado e um olhar muito pragmático e pouco poético em relação à vida. Afinal, Vanessa formou-se em Economia, foi Consultora de Impostos, Controladora de Gestão e, nos dias que correm, desempenha a função de Country Tax Manager numa empresa angolana. Bastará, porém, ler algumas páginas de “Não nos impõem as memórias, que nos permitem pertencer” (Arranha-céus, 2014), para ver que havíamos caído nos terrenos do estereótipo. A verdade é que Vanessa Godinho possui um olhar muito singular sobre a dimensão humana.
Viajamos até à ilha de Brava, a mais pequena do arquipélago de Cabo Verde, para ouvir contar a história de Titita, uma adolescente de treze anos que acaba de iniciar as férias de Verão. Assim que pomos os pés a bordo do Furna, tem início uma aventura que parte do território da inocência e termina, apenas, com a chegada da tristeza que só o final (imposto) da adolescência imprime à alma.
Com muito humor e ironia, Vanessa apresenta-nos a personagens fascinantes, tais como Maruso, o amigo do pai que falava como uma metralhadora e cheirava sempre a peixe estragado, ou à tia Amélia, dona de uma boca sem descanso e com a mania da desgraça. E faz-nos, também, escutar o português de Cabo verde, mostrando que nenhum acordo ortográfico poderá impedir a magnificente singularidade de uma língua enorme e tentacular.
O livro é o terceiro da colecção EC.ON, que pretende partilhar as experiências dos alunos, ex-alunos e professores da Escola de Escrita Criativa Online (EC.ON), e que se apresenta dividida em ideias explosivas (ensaios), ingredientes secretos (poesia) e fórmulas radicais (ficção). O livro de Vanessa Godinho pertence à radicalidade, uma autora que deverá ser mantida debaixo de olho.
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