Nascido em 1936, Luis Fernando Verissimo é um dos mais reconhecidos escritores brasileiros, sobretudo no que toca à arte de fazer rir através de palavras. Pela mão da Dom Quixote, chegaram recentemente às livrarias nacionais dois títulos seus: “As mentiras que os homens contam“, escrito originalmente em 2000, e “As mentiras que as mulheres contam“, levado ao papel década e meia mais tarde.
Em “As mentiras que os homens contam”, Verissimo trata desde logo de mostrar que não há aqui qualquer desejo de parcialidade, expondo o homem como o macho dominante no complicado domínio da mentira. Ou, dito de outra forma, da verdade incompleta: “Nós nunca mentimos. Quando mentimos, é para o bem de vocês. Verdade.” Seja com a mãe, a namorada, a mulher ou a sogra, tudo o que é dito e que extravasa as fronteiras do verídico é feito em nome do convívio social masculino, sendo a mentira apresentada como uma espécie de voucher que pode ser descontado pelas mulheres numa ida futura ao supermercado.
“As mentiras que as mulheres contam”, escrito quinze anos depois de Verissimo ter dado a palavra aos homens, não deixa de conter uma assinatura masculina. Aliás, muitas das entradas são mentiras contadas no masculino. De qualquer forma, e talvez por ter tentado calçar salto depois de se enfiar num vestido comprido, Veríssimo consegue neste segundo volume de crónicas aumentar o nível da risada, começando desde logo pela mentira inaugural, proferida quase sempre pela mãe: “Olha, o aviãozinho!” A partir daqui entramos no carrossel Verissimo, onde circulam mentiras sexuais escabrosas, uma velhota com pinta de predadora sexual, decotes vingativos, casamentos cancelados por maus churrascos e um compacto gangue de interesseiras, maníacas sexuais e invejosas.
Não sendo este o ponto alto da escrita de Luis Fernando Verissimo, estes dois volumes não deixam de ser uma boa amostra do espírito inventivo deste autor brasileiro, feito de muita emoção, drama e um humor para lá da ironia. Tudo escrito, claro, a partir do lado masculino.
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