Poder de observação, grande originalidade imaginativa, virilidade de ideias e um talento incrível para a narração. Foram estas as características que, no ano de 1907, valeram a Rudyard Kipling (1865-1936) a atribuição do Prémio Nobel da Literatura.
Nascido em Bombaim, Kipling estudou em Inglaterra antes do regresso à Índia em 1882, onde trabalhou para jornais anglo-indianos. A sua carreira literária, que se estendeu para lá dos 300 títulos, começou em 1886 com o livro “Departmental Ditties”, tendo Kipling ficado conhecido sobretudo como um escritor de histórias curtas.
O mítico “Livro da Selva” é, de longe, a sua obra literária mais conhecida, adaptada vezes sem conta ao grande e pequeno ecrã em versões animadas ou de carne e osso. A sua ligação ao universo animal para ilustrar a condição humana ou para pura recriação são, no entanto, mais vastas. Um exemplo dessa vertigem pelo mundo animal pode ser encontrada em “Histórias Assim” (Círculo de Leitores, 2016), um magnífico álbum ilustrado que reúne 12 contos que, com um toque de absurdo e uma boa dose de humor, nos mostram a humanidade e as fraquezas das personagens que nele habitam.
O livro foi escrito originalmente em 1912 para a sua filha Josephine – há quem diga que é a pequena Taffy de “Como se escreveu a primeira carta” ou “Como se inventou o alfabeto” -, tendo Kipling ilustrado os poemas originais sob a forma de estampas. Esta nova edição troca os desenhos de Kipling pelas ilustrações de Sébastien Pelon, que resultam num álbum com o toque clássico e colorido da infância.
Entre esta dúzia de histórias e sempre com um toque de absurdo conta-se “Como a baleia arranjou a sua garganta”, “Como o leopardo arranjou as suas pintas”, descobre-se “Como apareceram os tatus” ou canta-se “A cantilena do velho canguru”. São fábulas que soarão ainda melhor se lidas em voz alta, quase como uma colectânea de canções ao estilo do fungagá da bicharada.
“Era uma vez, no fundo do mar, uma Baleia que comia eixes. Comia linguados e pregados, salmões e camarões, caranguejos e badejos, sardinhas e suas vizinhas e até enguias com o seu corpo retorcido e ondulante. Tudo o que encontrava no mar a Baleia engolia, mesmo cru – zás. Até que, um dia, restava apenas no mar um pequeno Peixe Astuto, que nadava mesmo atrás da orelha direita da Baleia, para não correr perigo.”
In “Como a baleia arranjou a sua garganta”
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