Nascido em Inglaterra no ano de 1971, David Walliams é já quase uma instituição no que toca ao humor britânico. Após ter entrado no radar pela sua parceria com Matt Lucas em “Little Britain”, uma das mais engraçadas séries britânicas deste novo milénio, dedicou-se a partir de 2008 ao universo da literatura infantil. “Avozinha Gangster”, o primeiro dos seus títulos, foi levado em ombros por pais e filhos, um livro irrequieto, inesperado, muito divertido e que abalava algumas das convenções redigidas, de forma algo imaginária, para as histórias dedicadas às crianças.
Walliams apanhou a embalagem e a Porto Editora fez o mesmo por cá. Tendo apanhado o comboio em movimento, a editora lançou em cerca de dois anos seis títulos do autor britânico, sempre em cuidadas edições de capa dura: “Avozinha Gangster”, “Doutora Tiradentes“, “A Terrível Tia Alberta“, “O Rapaz Milionário“, “Rato Picado” e, mais recentemente, “A Incrível Fuga do Meu Avô” (Porto Editora, 2016). Este último é, de todo o sexteto, aquele que mais se aproximará de uma história clássica, ainda que mantenha os ingredientes absurdos a que Walliams nos habituou. Um livro que acaba por ser, também, inspirado na sua própria história familiar, uma vez que o avô de Walliams foi piloto da Força Aérea Britânica durante a Segunda Grande Guerra pilotando um Spitfire.
Estamos em 1983. Num tempo onde “ainda não havia Internet, telemóveis ou jogos de computadores que podiam ser jogados durante semanas a fio.” Jack, o pequeno herói desta história, vive com os pais: Barry, um contabilista com pouca graça e ainda menos afirmativo e Barbara, que trabalha num supermercado e cheira sempre, mas sempre, a queijo. Para Jack, contudo, a sua grande inspiração e companhia é o avô Bandeira que, em tempos, foi piloto da Força Aérea Britânica, cruzando os céus num avião de caça Spitfire.
Com o passar da idade o avô andava cada vez mais confuso, e a memória tendia a levá-lo cada vez mais para os seus antigos dias de glória. Quando, por exemplo, numa passagem de ano, os vizinhos começaram a lançar fogo-de-artifício, o avô insistiu para que todos fossem imediatamente para o abrigo anto-aéreo. Noutra altura, cortou um chocolate de mentol em quatro pedaços para o partilhar com a família por causa do racionamento.
Até que um dia simplesmente desapareceu, sendo encontrado mais tarde num pináculo da igreja, convencido de que está a pilotar um Spitfire a 200 pés do solo à procura de inimigos. E, mesmo que Jack se tenha responsabilizado por tomar conta do avô, o desejo de liberdade deste revela-se mais forte do que qualquer porta ou janela. Barbara, aproveitando a ocasião, convence o pai de Jack a hospedá-lo no lar Torres Crepúsculo, anunciado em panfletos como a Disneylândia dos Idosos. Jack, porém, está longe de estar convencido, e tudo fará para provar que algo de muito estranho se passa dentro daqueles quatro paredes, habitadas pela pouco simpática Sra. Banha.
História de uma amizade inquebrável entre um neto e o seu avô, bem como uma homenagem e recordação dos heróis que passam e moldam a nossa vida, “A Incrível Fuga do Meu Avô” apresenta aos mais pequenos a doença de Alzheimer e a forma como esta altera relações familiares, normalmente a braços entre o lado humano e o espírito utilitário. Walliams mostra tudo isto envolto numa grande história de aventuras, onde não falta a habitual presença de Raj, o lojista do bairro que vende coisas como chupas em segunda mão, chocolates já lambidos ou muitos artigos que entre si partilham o estar fora de prazo há já algum tempo.
O livro tem ainda um glossário, que aborda delicadamente a década de 1940 e a entrada em guerra, mencionando algumas figuras marcantes, batalhas decisivas, lugares que ficaram na história e os aviões que, então, cruzavam os céus. Quanto ao marcador é luxo puro, um avião colorido que transportará os mais pequenos ao longo da leitura.
3 Commentários
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Amei!!!
Muito informativo