A proposta lançada pelo Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos seria discutir o jornalismo e a utopia no desporto mas, desde o pontapé de saída de um jogo arbitrado por Ana Daniela Soares, foi traçada a fronteira: “O futebol não tem nada a ver com desporto“, disparou Francisco José Viegas, isto depois de Gabriel Alves, o jornalista que inventou todo um léxico e uma poética futebolística, ter dito o futebol era algo completamente diferente da ideia de desporto.
Para Gabriel Alves, jornalista com quem nos habituámos a ouvir falar de jogadores com peso e altura, o futebol oferece a utopia de um retorno à infância, esse universo que, tal como a poesia – e lendo as palavras de Manuel Alegre – não se explica, apesar de diariamente o tentarmos fazer.
Entrando decidido a pés juntos – “Estão imensos adeptos do Benfica na assistência” -, Francisco José Viegas falou do futebol como um desporto de guerra e, se por um lado gostaria de ver explanada a utopia do cavalheirismo idealizada por Cruijff ou Robson, mostrou-se sensibilizado para “a malandrice extrema da patifaria“, o lado selvagem do futebol.
“Pelé trouxe a arte, Maradona a festa, Eusébio os golos e Cruyff qualquer coisa de novo“. E discípulos, como Guardiola, adepto do futebol espectáculo e do cavalheirismo. Quanto a Mourinho, depois de duas épocas de sonho no Porto e mais uma no Chelsea, “habituou-se a ser um treinador rico“, e está hoje com a cotação em baixa. Já Simeone foi apontado por Gabriel Alves como “o treinador que descodificou o tiki-taka de Guardiola“, estando a criar no Atletico de Madrid o futebol do futuro.
No que toca ao jornalismo desportivo, este “será salvo pelas mulheres. Pelo menos tínhamos a vantagem de não termos ninguém vestido como o Rui Santos“. Disse-o Francisco José Viegas, queixando-de de as capas dos jornais desportivos terem sempre demasiado Benfica e elogiando a forma como o Brasil tem tratado literariamente o esférico, com Nelson Rodrigues à cabeça.
Gabriel Alves aproveitou para elogiar as crónicas de Rogério Casanova no Expresso, isto enquanto criticava a cultura jornalística que parece ter saído da Faculdade de Motricidade Humana para falar de bissectrizes, ângulos e outros fenómenos de um desporto que, se olharmos bem, não é nenhuma raiz quadrada. Quanto ao exercício de futurologia para o próximo campeão, nada como ir buscar as palavras desse filósofo chamado João Pinto: prognósticos só depois do jogo.
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