“O criador de “Hamlet” tinha o dom de compreender a natureza humana nas suas contradições e incoerências, e de a amar, não apesar delas mas exactamente por causa delas. Há nele o olhar futuro e futurista do sociólogo e do psicólogo, excedidos pela sedução do imprevisível que alimenta a curiosidade e tece a rede da empatia.”
Mais do que um poeta, actor e aclamado universalmente como um dos melhores escritores ingleses, William Shakespeare pode ser colocado e indicado como um dos maiores visionários da história da humanidade, por ter a sua obra tão encaixada nos desvios, perversidades e qualidades da actualidade – longe de qualquer tipo de evolução tecnológica e revolucionária dos comportamentos e funcionamentos dos vários povos – e comprovada através desta mais recente obra organizada e traduzida pela escritora Inês Pedrosa, “As Lições de Vida de William Shakespeare” (Dom Quixote, 2016).
Aclamado como uma das “figuras fortes e simbólicas da cultura universal”, como escreveu a escritora e organizadora desta antologia, Shakespeare foi a figura escolhida para homenagem na segunda edição do Festival Internacional da Cultura (FIC). Estas lições de vida são o resultado da investigação de Inês Pedrosa para levar a obra “shakespeariana” para a discussão contemporânea entre os vários convidados: uma frase do escritor dava início a uma conversa, aliando a sua arte literária a questões actuais. Nas mãos do leitor fica esta bela lembrança e um guia para iniciar a leitura pelas criações de Shakespeare, que se destacam para além das questões “do poder e da vingança, da ambição e da hipocrisia, da guerra e da morte”. Questões sobre a amizade, o amor ou o amor-próprio são apresentadas ao leitor e acompanhadas pelas belas ilustrações de Gilson Lopes, reconhecido dos leitores por também ter ilustrado o livro de contos “Desnorte”.
São vários os pontos fortes que se destacam em “As Lições de Vida de William Shakespeare”: a forma como as citações se aplicam à actualidade, a simplicidade introdutória e convidativa à leitura de todas as obras do escritor, o formato e a beleza das ilustrações que dividem os vários capítulos e tantos outros. Em todas as citações de Shakespeare revive-se a forma como a sociedade vive, como os seres humanos se comportam em pleno século XXI (“O amor é demasiado jovem para saber o que é/ [a consciência;/ Mas quem sabe se a consciência não nasce do amor?”), e é esta sensação de pertencer ao presente que faz com que a escrita “shakespeariana” seja uma forma de reinventar a vida, levando o mais simples leitor a sublinhar as variadas citações desta antologia organizada por Inês Pedrosa. Um outro ponto forte do livro é termos a língua inglesa e portuguesa, lado a lado ao longo das páginas, que coloca esta obra ao alcance de mais leitores e quebra as fronteiras do pequeno mercado literário de Portugal.
Para além do conteúdo, qualquer obra é reconhecida pela capa e, sempre que se verifica, pelas imagens no interior. A visão é o primeiro sentido a ser atraído por qualquer livro e, nestas lições de vida, a mão do artista Gilson Lopes é fundamental para encantar o leitor. Com personagens que se tornaram eternas pelas lutas travadas entre o bem e o mal nos derradeiros caminhos da ambição, “As Lições de Vida de William Shakespeare” é uma excelente homenagem a um dos mais talentosos escritores da História, porque só “a beleza e a verdade resistem aos dentes sôfregos do tempo”.
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