Tom Rob Smith, autor de “A Criança nº44” – um bestseller do The New York Times -, fez uma escolha inteligente no tema do seu novo thriller psicológico, “As Sombras da Dúvida” (Marcador, 2016). Baseando-se em episódios e situações reais, Tom escreveu este livro na perspectiva de um filho que se depara, repentinamente, com ter de escolher entre qual dos seus progenitores acreditar.
A história centra-se na vida de uma família aparentemente feliz. Daniel recebe um telefonema de Chris, seu pai, que o informa que a mãe não está bem e que ele correrá perigo. Logo de seguida é a mãe – Tilde – que o contacta, confrontando-o com a sua versão da história, avisando o filho de que o seu pai lhe mente. Se, no início, a trama parece não passar de mais um simples conto, o autor consegue inteligentemente levar o leitor a pensar que nada é o que parece.
‘’Os tempos maus eram escondidos. Eu era cúmplice nesta situação. Não a explorava.’’
Todas as famílias, umas mais do que outras, têm segredos, e este é um mecanismo utilizado pela maior parte dos pais com a finalidade de poupar os filhos a preocupações e a sofrimentos desnecessários. Porém, quando os segredos são relevados, poderão fazer desabar o mundo dos que mais tentam proteger – é precisamente nessa posição que a personagem principal se encontra.
No final do livro – que não vai ser revelado aqui –, todo o comportamento da mãe é explicado através da sua infância, que escondeu tanto do filho como do marido. É feita uma consideração relevante sobre o poder que o cérebro humano tem e, quando traumatizado, as consequências que isso poderá trazer às relações afectivas com os demais. Este órgão – o mais misterioso do corpo humano – assume mecanismos de defesa consoante as experiências vividas, tendo Tom Rob Smith feito um trabalho distinto ao trazer esta temática a debate.
Outro tema explorado é o da homossexualidade. Ao ler os relatos da personagem principal, consegue perceber-se os receios de assumir a sua sexualidade perante os entes queridos. Vive, de certa forma, inconformado entre a vontade de se mostrar como realmente e o medo de decepcionar os que mais lhe são chegados, de assolar as memórias e as expectativas que desenharam para si.
‘’Tinha pavor de estragar a recordação da minha infância (…). Ao ouvir a verdade, de certeza que concluiriam que tinham falhado.’’
Tom Rob Smith usou a sua experiência de vida para construir esta narrativa – quer no episódio psicótico da sua mãe quer da sua sexualidade -, num livro que, provocando sentimentos extremos nos leitores, apresenta uma narrativa espontânea e natural.
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