Para os quatro meses que nos separam até que o calendário mude um dos seus quatro dígitos, a Antígona preparou um pacote de edições que, entre reedições e novos lançamentos, contos e ensaios, biografias e romances, fechará em beleza o ano editorial.
Este mês chega às livrarias uma nova tradução do clássico “A Máquina do Tempo”, escrito por H. G. Wells em 1895, autor de quem a editora irá publicar, em 2017, “Tono-Bungay” (1908), por muitos considerada a sua obra-prima, uma sátira ao mundo da publicidade e aos impérios comerciais – e tudo em volta de um elixir pseudo-milagroso.
Ainda em Setembro teremos “O Tempo dos Assassinos – Um Estudo sobre Rimbaud“, escrito por Henry Miller – de quem a editora publicou já “Os Livros da Minha Vida” -, que se encontra há muito esgotado em Portugal. Para além da faceta de biografia e de estudo literário, o livro desvenda mais uma parte da auto-biografia espiritual de Miller, que elege Rimbaud como o profeta do colapso, falando do papel do poeta e artista francês e das suas contrariedades e provocações.
O nono mês do ano reserva ainda o lançamento da biografia “Tomás da Fonseca – Missionário do Povo“, de Luís Filipe Torgal. A obra analisa a vida polémica de um autor que teve uma impressionante produção literária e vida intelectual, cruzando dois séculos e vários regimes políticos. O livro vai das origens humildes à afirmação de Tomás da Fonseca enquanto referência incontornável do anti-clericalismo português, tema representado no livro “Na Cova dos Leões”, impressos durante o salazarismo e que desconstrói as visões e o culto de Fátima.
Outubro começa de forma tranquila com “O Direito à Preguiça“, um ensaio de Paul Lafargue que se lê como crítica à loucura que se apoderou do homem e da sociedade moderna – a que o autor dá o nome de “amor ao trabalho“. Paul Lafargue, genro de Karl Marx, combina aqui argúcia e humor, trazendo para cima da mesa uma máxima que continua bem válida: o trabalho mata as faculdades mais belas do homem. De Germán Márin chega o romance “O Palácio do Riso” (1995), que recria um dos maiores centros de tortura na Argentina durante a ditadura de Pinochet e que ganhou o seu nome de baptismo – Palácio do Riso – graças ao espírito sádico dos agentes da polícia política. Chega também às livrarias “Conta-me Uma Adivinha” 1961), livro de Tillie Olsen que reúne quatro dos seus melhores contos: Estou aqui a engomar, Eh, marujo, que navio?, Oh, sim e Conta-me uma adivinha. Uma mãe preocupada a braços com as tarefas domésticas, o isolamento progressivo de um homem embarcado e perdido no álcool, o racismo na sociedade negra e o declínio físico de uma matriarca são os temas focados neste quarteto. Outubro é também mês da edição de “Kitsh – Um Estudo sobre a Degenerescência da Arte” (1925), de Fritz Karpfen, uma das primeiras referências a um fenómeno que acompanha historicamente as vanguardas artísticas.
Depois de ter publicado “Nós”, a quem Orwell foi beber para escrever o estratosférico “1984”, a Antígona abre o mês de Novembro com os “Contos Escolhidos” de Zamiatine, livro precedido de “Carta a Estaline”, texto sobre a vida de um escritor durante a ditadura opressiva de Estaline, no qual pede para se ausentar do país e apenas regressar “quando for possível servir, na literatura, as grandes ideias sem ter de se obsequiar pessoas insignificantes“. “O Dragão”, “O Norte” ou “Inundação” estão entre os contos deste volume. Também no universo dos contos chega “Pastoralia“, de George Saunders, comparado por alguns a David Foster Wallace e tido por outros como discípulo de Donald Barthelme. Segundo o prefaciador, Saunders teve um percurso sui generis e neo-kerouaciamo, que “costuma resultar em boas notas biográficas e péssimos saldos bancários“. O mês de Novembro e o ano editorial da Antígona fecha com “Políticas da Inimizade“, um ensaio de Achille Mbembe onde o historiador camaronês se debruça sobre a inimizade como o sacramento da nossa época, no contexto de novos movimentos migratórios, do estreitamento do mundo e da brutalidade das fronteiras.
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