O que sente uma criança ao ver-se rejeitada pelo pai enquanto observa o seu irmão a ter direito a uma família funcional e feliz? Com que mazelas fica o ser humano que cresce privado de amor dos progenitores? São estas as questões que Liz Nugent tenta responder ao dar vida a Oliver, a personagem principal de “O Segredo do Escritor” (Marcador, 2016).
Oliver, escritor de histórias infantis, e Alice, a ilustradora das suas obras, vivem uma vida aparentemente feliz, até ao dia em que Oliver espanca a esposa e a deixa em coma. Ele próprio fica surpreendido com o seu acto:
‘’Eu sim, fiquei surpreendido. Não tinha planeado fazer aquilo. (…) Se tivesse o copo na mão, ter-me-ia detido para o pousar antes de lhe bater? Ou ter-lho-ia desfeito na cara? (…) embora não devesse ter feito o que fiz, ela também não me devia ter provocado.’’
Todos os seus amigos e conhecidos ficam chocados com as últimas novidades, sendo a partir de aqui que o enredo se desenvolve: cada capítulo corresponde a uma personagem a contar como conheceu Oliver e como era a sua relação, o que faz a história recuar até à sua adolescência. Aqui destacam-se Michael e Laura, irmãos. Ambos conheceram Oliver nos anos de faculdade e juntos fizeram uma viagem até França para trabalhar durante o verão. Um acontecimento que vai alterar por completo o rumo destas três personagens.
A ideia inicial associada à personagem principal é de psicopatia mas, com o decorrer de intriga, percebe-se que Oliver é fruto da dor, do abandono e da rejeição por parte do pai. Apesar de não ser justificável, o leitor quase tem tendência a desculpar as suas atrocidades, justificando-as com uma história de vida cruel.
‘’Não tirava os olhos do filho, como se não conseguisse acreditar na sua sorte. Ele e o rapaz estavam no seu próprio mundo (…) e senti vontade de estar no seu lugar. Só por um instante, para exultar com o amor e a atenção de um pai.’’
O livro traz implícito um tema de extrema relevância, o da importância do afecto no desenvolvimento de uma criança. É sabido que o amor é um dos pilares fundamentais para a construção de um homem equilibrado. No caso desta história, os actos de violência cega e desmedida advêm da frustração de nunca ter sido amado e reconhecido demonstrando, numa maneira fria e crua – muitas vezes pelos olhos de Oliver -, o quanto um ser humano pode ser perseguido por traumas, criando uma espiral de caos à sua volta. Neste caso, criando violência numa tentativa de subjugar sentimentos que o próprio não entende.
É então este o elemento diferenciador: a autora consegue criar empatia e compreensão sobre um acto não justificável, do qual se conhece a raiz, criando no leitor um maior sentido de responsabilidade, observação e, quiçá, mais compreensão pelo próximo.
Apesar de aludir a temas importantes como o amor familiar, a homossexualidade e até mesmo a mistura racial quando ainda eram temas tabu, há uma tendência por parte de Nugent para fazer um enredo demasiado circinal e, ao mesmo tempo, superficial, acabando por não construir de forma coesa as restantes personagens além da principal e, por conseguinte, não fazendo jus à importância de outros temas iniciados mas pouco explorados.
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