Em Portugal, o mundo das traduções tem sido um verdadeiro festim para aqueles que se divertem com as andanças gramaticais. Basta entrar num DeLorean, recuar um par de décadas e atentar ao jogo de cintura de um tradutor – ou tradutora, sabe-se lá – que, perante o aparentemente facilitismo que o título cinéfilo original oferecia – “Out of Africa” -, decidiu enveredar por um mais pessoal “África Minha”. Há, porém, coisas bem piores, sobretudo quando a coisa toca o nível pessoal. Que o diga Jules Verne que, durante muitos bons anos, foi tratado como Júlio Verne – e, se a familiaridade se tivesse instalado, provavelmente tinha terminado com um mais fofo Julinho.
Serve este preâmbulo para apresentar “Viagem ao Abismo” (Planeta, 2016), o terceiro volume da colecção As Aventuras do Jovem Jules Verne, que pretende apresentar à pequenada um dos mais imaginativos – e de certa forma visionários – escritores que já passaram pela história da literatura. Histórias que, apesar de virem assinadas pelo próprio Capitão Nemo, são recriadas por Miguel Garcia a partir da matéria-prima de Júlio, perdão, Jules Verne.
Na cidade de Nantes, o progresso científico parece estar a chegar definitivamente, algo que assenta que nem uma luva ao fantasioso Jules que, mesmo à mesa de jantar com os pais, consegue transformar um polvo assado num monstro terrível. Ele que sonha com embarcar no Nautilus para conhecer todos os segredos do navio, mas que se terá de contentar com saber, através de um disfarçado Nemo, que existe “um labirinto de túneis abertos por rios ou correntes subterrâneas de lava“.
Algo que definitivamente terá de ser explorado pelos Aventureiros do Século XXI, uma organização composta por Jules, Marie, Huam e Caroline, que terão de travar o demoníaco plano idealizado por uma organização criminosa anti-progressso que, entre outras coisas, pretende que a ligação de comboio entre Nantes e Paris não se concretize.
Pelo meio há loucas invenções como umas orelhas artificiais, capazes de ouvir conversas alheias sem levantar suspeitas, ou um colete de aventuras, o equivalente a um canivete suíço no que toca ao vestuário. Invenções que teriam deixado Verne muito orgulhoso. Jules Verne.
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