Arrisque-se o sortilégio. No que toca a sagas mergulhadas em pura fantasia, e desde que Tolkien escreveu o insuperável O Senhor dos Anéis, poucas chegarão aos calcanhares da Saga Mistborn – Nascida nas Brumas, escrita pelo americano Brandon Sanderson. Ele que, antes, havia dado uma mãozinha à série de fantasia A Roda do Tempo – composta por 14 volumes na edição original -, ajudando a terminá-la após o falecimento de Robert Jordan. Claro que há também As Crónicas do Gelo e do Fogo, mas apenas se fala aqui de sagas que foram completadas, o que está muito longe de acontecer com esta série de George R. R. Martin que, agora, mais parece uma telenovela, chegando ao sortilégio de a adaptação televisiva estranhamente estar já à frente dos livros.
Quanto à Saga Mistborn, chegou há não muito tempo às livrarias “O Herói das Eras – Parte II” (Saída de Emergência, 2016), uma manobra de marketing da Saída de Emergência que decidiu transformar uma trilogia num 3+1, fazendo render o peixe até se ver a espinha. Algo que condiciona um pouco a leitura inicial, uma vez a linha temporal é exactamente a mesma do livro anterior, obrigando a um exercício de memória e, talvez, a que se pegue na parte I para ler os últimos dois ou três capítulos e seguir em frente já com um bom embalo. Seja como for, esta segunda parte vale, uma vez mais, cada uma das pestanas queimadas.
Ruína mostra-se cada vez mais, nestes tempos onde o mundo se aproxima do fim, rodeado de brumas e soterrado em cinza. Vin e Elend estão, uma vez mais, em lugares opostos, tentando descobrir uma pista sobre a forma de impedir aquilo que parece inevitável, procurando a última caverna deixada pelo Senhor Soberano e a reserva de átio que vai parecendo cada vez mais uma história dos contos de fadas.
Com o fim próximo, este é o livro onde as personagens se deixam levar pela melancolia, olhando para todos aqueles que tombaram e o muito caminho trilhado em nome de uma revolução. Essa é, aliás, uma das características que distingue esta série de, por exemplo, a escrita por Martin. Enquanto cada uma das mortes em Martin é celebrada como um acontecimento, com fogo-de-artifício e piras gigantescas, aqui o luto faz-se de forma contida e, quando a saga termina e se faz um elogio aos mortos, é como se a demanda de anos passasse em segundos pelos olhos do leitor, feliz por ter acompanhado esta saga que mistura tratados políticos, livros de super-heróis, jornadas pessoais e o desejo do bem comum. Para quem gosta de fantasia, este livro – e toda a saga – é simplesmente imperdível.
1 Commentário
A brincadeira do 3+1 fez com que me zangasse e comprasse o terceiro volume (completo) em inglês (o ebook custou-me menos de 10 euros) porque se há coisa que detesto é parar um livro a meio.
Brandon Sanderson foi uma das melhores surpresas do ano passado. Foi o meu regresso à fantasia épica. Estou neste momento a ler (em Inglês, claro, que já não espero por nada que possa ser editado pela saída de emergência) a nova saga dele The Way of Kings, que me parece ser tão boa (ou melhor) que mistborn.
Boas leituras