Em 2012, a Quetzal publicava um dos livros mais assustadores do ano – talvez mesmo da década -, que juntava a essência do thriller nórdico a um apetite voraz pelo sobrenatural. “Lembro-me de ti”, de Yrsa Sigurdardóttir, foi uma verdadeira pedrada no que ao thriller dizia respeito, e não terão sido certamente poucos os leitores que, paralelamente à sensação de pele de galinha, terão vivido uma sensação de medo puro.
“O Silêncio do Mar” (Quetzal, 2016), o seu mais recente livro, tinha tudo para repetir a gracinha: um iate de luxo assombrado e sete passageiros desaparecidos numa travessia marítima entre Lisboa e Reiquejavique. O resultado, porém, está longe de poder causar o frisson de “Lembro-me de ti”, e o final proposto por Yrsa fica ao nível de uma telenovela venezuelana mal dobrada.
Mary Celeste, um iate de luxo construído em 1872, tem tido uma vida marítima difícil, marcada essencialmente pelo assombro. Talvez por isso a surpresa não seja tão acentuada quando entra no porto de Reiquejavique como uma pequena locomotiva, proveniente de Lisboa sem qualquer passageiro a bordo.
Aegir e a família estavam entre esses passageiros, e caberá a Thora, uma advogada com uma secretária que faz mais downloads ilegais do que mostrar trabalho, tentar descobrir se terão morrido durante a travessia, de modo a que o seguro de vida em nome dos dois possa ser entregue aos pais de Aegir, que tentam que a neta que ficou em terra fique aos seus cuidados.
A narrativa divide-se entre o tempo presente, vivido na cidade islandesa, e a travessia de barco, onde o leitor é posto à prova para tentar descobrir se a razão para os corpos que vão sendo encontrados em arcas congeladoras e aqueles que são deitados borda fora são causa humana ou um fenómeno sobrenatural.
“O Silêncio do Mar” acaba por falhar rotundamente enquanto livro de terror e, quanto ao lado thriller, fica também a milhas marítimas de satisfazer, com personagens pouco marcantes e um enredo sem muito sal.
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