Parece ser uma daquelas verdades incontornáveis, que atravessa gerações e não escolhe idade para o seu começo ou término. Que atire a primeira pedra quem nunca, até este momento em que passa os olhos por estas linhas, se dedicou a essa coisa do coleccionismo, fosse pelo ângulo das cadernetas de cromos, das latas de refrigerantes, de autocolantes ou dos selos de correio (preferencialmente sem carimbos).
Bem, se calhar existem ainda algumas excepções, como o caso do pequeno Tiago que, antes de ficar conhecido como “Tiago, o Coleccionador-Quase-Nuvem” (Arranha-Céus, 2016), muito caminho teve de percorrer.
Tudo começou com um amuo, descrito como “a forma que nós temos (…) para mostrar que há ali um intruso pelo meio do verbo amar.” O amuo de Tiago aconteceu depois de muito olhar para o herbário do Tio Júlio, com folhas “com nomes que nunca pensaríamos dar a um filho!”. Se juntarmos a isso o facto de, na escola, o Rafael andar sempre a trocar cromos de futebol com o Mário ou o Luís ter sempre berlindes no bolso, Tiago começa a ficar preocupado, fazendo interiormente uma pergunta a si próprio: o que poderá ele coleccionar para ser considerado um rapaz a sério?
Uma vez mais e como acontece na maior parte dos salvamentos, será a mãe a ajudá-lo a descobrir a sua própria colecção, começando aí a grande aventura de um “cabeça no ar”. Mãe que, para grande espanto de Tiago, tem uma estranha colecção, toda feita de beijinhos, que o ajudará a escolher a sua própria, feita com muito papel e ainda mais imaginação. Não será, porém, uma colecção qualquer, uma vez que terá de ser construída a meias com Luísa, uma amante de livros e de poucas conversas.
Com texto de Vanessa Mendes Martins e ilustrações de Marta Madureira, “Tiago, o Coleccionador-Quase-Nuvem” aborda, a partir de uma união improvável, a busca pela colecção perfeita que, para ser realmente importante, não deve ser trancada a sete chaves. Para além de mostrar que, decididamente, o disparate é uma coisa boa, que deve ser cultivado com muito cuidado e esmero.
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