Da Temas e Debates, chancela do Círculo de Leitores especializada em ensaio e história, chega-nos “Trabalho, Sexo e Poder: as forças que moldam a história”, do historiador escocês Willie Thompson (n. 1939). Trata-se de uma obra de grande escopo, que percorre um arco de 200 mil anos que tem início no Paleolítico e termina nos nossos dias, passando pelos marcos mais importantes da história da humanidade, desde o desenvolvimento da agricultura à globalização.
Partindo da perspectiva do materialismo histórico – a teoria da história formulada por Marx, segundo a qual as relações que os homens estabelecem entre si (não necessariamente de uma forma voluntária) tendo em vista a reprodução das suas condições de existência são a base de toda a organização e divisão social –, Willie Thompson (que além de professor universitário, foi durante largos anos membro ativo do extinto Partido Comunista Britânico) narra, ao longo de quase 500 páginas, uma história da humanidade marcada pelo conflito, pela desigualdade e pela exploração, desde as comunidades primitivas de caçadores-recolectores até ao capitalismo avançado.
Os primeiros capítulos abordam os milénios iniciais do desenvolvimento humano até ao surgimento da agricultura e da metalurgia, depois analisam-se os processos de diferenciação de género, sexo e família, seguindo-se o fenómeno religioso, os processos de formação de identidades e nações, a expansão dos impérios e a colonização e, finalmente, a revolução industrial, as contradições do capitalismo e as promessas e paradoxos do socialismo. Contudo, esta organização é menos sequencial que temática, e o leitor poderá sem prejuízo saltar entre capítulos sem perder o fio à meada.
O ponto forte desta obra é o notável esforço de interdisciplinaridade do autor, integrando na sua narrativa histórica contributos provenientes de várias áreas do saber, como a paleontologia, a biologia, a sociologia, a antropologia e a economia. Menos boa é a organização do próprio texto, marcado por muitos comentários laterais e ilustrações de diversas épocas históricas, que por vezes fazem perder o fio condutor da obra e tornam a leitura demasiado acidentada. Fica também a impressão que o título não faz jus à obra, e que há algum défice de teorização sobre a forma como o trabalho, o sexo e o poder moldam o curso da história.
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