A máxima de que um bom thriller assenta bem em qualquer pano de fundo poderia aplicar-se a “Numa Floresta Muito Escura” (Clube do Autor, 2016), da inglesa Ruth Ware. Escolher uma despedida de solteira com um grupo improvável de pessoas, em que a noiva (Clare) vai casar com o ex-namorado (James) da sua ex-melhor amiga (Nora) e da qual consta um programa de actividades bem estranhas como tiro ao alvo ou um tabuleiro de ouija cria, desde o início, um ambiente de desconforto e tensão, ideal para todos os acontecimentos que vão surgindo num ritmo de crescente estranheza e angústia. Há um movimento pouco habitual, o suspense é mantido até ao final e as linhas do mistério deixam no ar uma questão importante: quem são as vítimas e quem são os culpados?
Nora Shaw, uma escritora solitária, acorda numa cama de hospital num estado de amnésia, apenas com a certeza de que sucederam acontecimentos muito estranhos e de que alguém morreu. As suas dúvidas têm a ver com descobrir de que forma é que participou, levando-a ao esforço de tentar reconstituir os seus últimos dias e, em simultâneo, a revisitar um passado bem trancado mas que lhe continua a condicionar a sua vida desde então. Regressamos assim aos tempos de adolescência, ao seu namoro encantado com James e à amizade inseparável com Clare.
Entre o passado e o presente, a sensação que envolve o leitor é de que os tais assuntos que comummente apelida de inacabados ou “não-resolvidos”, a par da descoberta da real natureza humana – mesmo dos que por vezes eram e são mais próximos -, criam do princípio ao fim uma sensação de desconforto e tensão, que incomoda tanto como uma pedra de tamanho XL escondida no sapato.
Quem não ficar satisfeito com os cenários mentais criados a partir deste romance de estreia de Ruth Ware, terá sempre a oportunidade de, num futuro próximo, assistir à sua adaptação ao grande ecrã.
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