Para os amantes de banda desenhada e, sobretudo, do universo da ilustração servido às tiras, é bem conhecido o poder antioxidante de que as personagens parecem estar eternamente servidas, e que as impede de seguir a linha do tempo por que nós, comuns mortais, estamos condenados a caminhar. Astérix e Obélix, Mafalda, Calvin & Hobbes, podíamos estar nisto todo o dia. Ou, para aquilo que interessa neste escrito, o empreendimento Baby Blues, que através da Bizâncio chega agora ao 33º volume com o lançamento de “Não Gritem” (Bizâncio, 2016).
A tira cómica Baby Blues nasceu em 1990, escrita por Jerry Scott e desenhada por Rick Kirkman. Originalmente as peripécias baseavam-se na própria vida de Kirkman, em particular nas aventuras domésticas após o nascimento da sua segunda filha. Já em 1993 foi Jerry Scott a ver nascer a sua primogénita, e a série ganhou mais um embalo rumo ao humor feito do esmiuçar da parentalidade. Foram anos gloriosos, que culminaram em 1995 com a distinção feita pela National Cartoonist Society, que considerou Baby Blues a melhor tira do ano – a que se seguiram outros prémios e distinções.
Vinte e seis anos depois, as crianças continuam pequenas, indomáveis e prontas a deixar os pais à beira de um esgotamento. Pais para quem, umas míseras horas de silêncio ou o direito a uns momentos de sossego no sofá, são a ideia mais concreta e possível de um paraíso terreno.
Disputas entre irmãos, mudanças de fraldas, doenças e alergias, desastres domésticos, tudo isso mora nestas páginas, onde muitas das tiras são servidas tendo como nota de rodapé os comentários dos próprios autores, explicando de onde surgiu a micro-história e dando um cunho verdadeiramente pessoal ao rebuliço familiar. Kirkman e Scott sing the blues, bem acompanhados pelo choro da primeira infância e os gritos infantis de dois irmãos muito diferentes. Se está a pensar constituir família em doses industriais, o melhor será passar primeiro os olhos por estas tiras.
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