Imaginar um bando meio “beto”, género Delfins, a tocar ao estilo Xutos & Pontapés anos 90, não é fácil. Somar a isso uma aparição no sempre épico Natal dos Hospitais da RTP, uma incitação inadvertida à destruição nas festas de Canas de Senhorim mais o aconselhamento pelo mítico Quim Barreiros, e provavelmente começaremos a dar sinais de possível intoxicação por cogumelos mágicos.
Tudo isto faz parte do percurso dos “The Empire” (Topseller, 2016) até a sua ascensão à glória e fama no mercado discográfico mais abrangente e diverso a nível mundial, o dos Estados Unidos da América. Daí à conquista do universo seria um pequeno passo.
Pelo meio temos as drogas, o álcool e, sempre – ou pelo menos idealmente – a complementar, o sexo. Isto, obviamente, quando se está a propor uma espécie de manifesto do que são os bastidores duma banda de rock’n’roll “típica”.
Não é fácil levar o livro de João Valente totalmente a sério, ficando sempre a dúvida se será essa a melhor forma de o encarar e interpretar. O relato conduz-nos a isso, tudo o resto não e, por mais românticos que sejamos, torna-se difícil “engolir” a mistura entre os géneros “Filhos do Rock” e “Empire” – passe o pleonasmo da última -, pela distância das realidades que cada uma delas encerra, tão díspares que a junção de ambas torna tudo menos coerente.
O autor faz um esforço para caracterizar individualmente os membros do grupo esquecendo, no entanto, a identificação da música, a criação da mesma como resultado duma determinada orientação estética ou ideológica. Enquanto conjunto, seria de assumir que, para surpreender sonoramente, haveria que apresentar algo mais que a típica irreverência juvenil, característica mais dada à adolescência. Sobram clichês, sabe a pouco o conteúdo.
A música é muito mais do que happenings paralelos e pouco edificantes, o sexo, drogas e R’n’R é apenas uma pequena parte – aquela que ajuda à criação de auras obscuras e mitológicas, não à génese do fenómeno musical em si. Na sua génese, está apenas a música. E, para um amante da música, esta história saberá a pouco. Porém, se procurarem um livro que entretenha com uma visão algo redutora dos bastidores do meio musical, será sempre uma opção a considerar.
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