No mundo da espionagem vivida no mundo literário, no dia em que for feita uma lista dos maiores mestres e aprendizes do género, há um nome absolutamente obrigatório e que, muito provavelmente, irá ocupar uma posição de topo: John le Carré.
Nascido em 1931, Carré trabalhou esporadicamente nos serviços secretos britânicos durante a Guerra Fria, sendo primeiro secretário da Embaixada britânica em Bona e, posteriormente, cônsul político em Hamburgo. Começou a sua carreira literária em 1961, alcançando a fama logo ao terceiro livro: “O espião que veio do frio”. O resto é História, ou melhor, boas histórias, onde se inclui, por exemplo, a trilogia Karla, composta pelos vértices “A Toupeira”, “O Ilustre Colegial” e “A Gente de Smiley”.
Editado originalmente em 1993 e lançado agora em formato de bolso – em mais um volume da colecção BIS -, “O gerente da noite” (Leya/BIS, 2014) é um exemplo da mestria de Carré na (des)construção do mundo da espionagem pós-Guerra Fria, um lugar habitado por traficantes implacáveis, armas de todo o tamanho e calibre e uma quantidade de drogas que daria para alimentar 100 Casais Ventosos nos bons velhos tempos.
Nesta história, o lado mais sinistro é representado por Dicky Roper, um implacável – e aparentemente intocável – homem de negócios que faz das Caraíbas o seu porto seguro. Quanto ao herói dá pelo nome de Jonathan Pyne, gerente de um hotel em Zurique e soldado veterano com o passado pintado das cores da obscuridade, recrutado como agente secreto com a missão de se infiltrar no mundo de Roper. Para lá das questões postas em cima da mesa pela agência, Pyne tem motivos de foro pessoal para querer ajustar contas com Roper, o que vem colocar a vingança pessoal como a cereja colocada no topo deste bolo com recheio de espionagem.
Conhecedor da mudança dos centros de poder decorrida por volta de 1990, Le Carré construiu neste livro uma (nova) personagem com ares mitológicos, num livro onde as rivalidades entre as grandes potências cedem o lugar de destaque às organizações criminosas, dedicadas ao contrabando de armas e ao tráfico de drogas, e cujo raio de acção e influência lhes permite estar na cúpula de todas as esferas sociais e políticas.
Tragédia, aventura, desgostos de amor e desejo de vingança num livro que, para lá do papel de fundo de mistério e espionagem, revela todo o humor negro e ironia de Carré – a lenda da peruca de Herr Kaspar é um mimo -, na apresentação de um mundo que se joga nos bastidores.
2 Commentários
Amigo, por ao acaso vc poderia me dizer onde vc comprou a versão do livro em portugues, se puder me passar o link, agradecido.
Bom dia João. Poderá comprá-lo em qualquer livraria (Bertrand, Fnac, etc…) ou, em alternativa comprar online via Leyaonline, Wook, etc. Cumprimentos.