Publicado originalmente na África do Sul – em 2002 – sob o título “Mandiba Magic: Nelson Mandela’s Favourite Stories for Children”, “As Mais Belas Fábulas Africanas” (Nuvem de Letras, 2016) recebe-nos com a dedicatória de Nelson Mandela: “Para as crianças de África, com amor de Mandiba”. No prefácio as boas-vindas mantêm-se através do convite à viagem, à entrega e à magia, à capacidade de crianças e adultos se deixarem maravilhar e alargar horizontes. Trata-se de uma antologia composta por histórias antigas de África, contos de todos os tempos, reveladores da vida africana mas, também, de temas universais e intemporais.
Visionário, sempre a pensar nas crianças e na oportunidade de lhes fazer chegar temas acarinhados desde sempre, a expectativa de Nelson Mandela parece ser a de continuar a alargar os horizontes dos mais novos, maravilhando-os com a beleza das tradições e dos livros. Tal propósito é conseguido sem esforço, através da compilação de 32 diversificadas e surpreendentes fábulas provenientes de diferentes pontos de África. As fábulas são pequenas histórias que transmitem uma lição de moral, onde geralmente os personagens são animais com características humanas. Através das histórias, os valores da sociedade são criticados para mostrar o que é certo ou errado.
Geralmente divididas em duas partes, as fábulas contemplam a história – o que acontece – e a moral – o significado da história, trazendo ensinamentos sobre os princípios da vida em textos, criados e inventados com o objectivo de dar ou transmitir uma lição de moral.
“O Rei Leão ia dar uma grande festa e todos os animais tinham de comparecer, porque um convite do rei era lei, e ninguém o podia recusar. Apenas a mulher do bode o recusou”. Conseguirá a Avó Cabra resistir a um convite que incluísse comida, a que todos os outros animais pretendiam ir, sobrepondo a curiosidade, vaidade e ambição ao risco de puderem ser o banquete do monarca? E que esperar da Carraça, a quem a Lua confiou a missão de levar aos humanos uma importante mensagem, aproveitando a sua conhecida preguiça que a fazia esperar sentada à sombra e saltar para cima de uma cabra ou um pastor que por perto passasse?
Histórias de adversidade e superação como a de Simba, o leão que vivia numa gruta “quando era novo não se preocupava com a solidão, mas pouco antes de esta história começar magoara-se numa perna, e os ferimentos eram tão graves que ele não era capaz de procurar alimentos.” Ou do homem que “que tinha muitas vacas, ovelhas e cabras, mas que não conseguia arranjar uma mulher com quem casar.”
Transversalmente a várias histórias, surgem temas como a influência, o valor da pureza de sentimentos, a recompensa pela bondade despretensiosa, a ambição e a dificuldade em esperar; mensagens evidentes e sublimares, de valor, compromisso, fidelidade, esforço e amizade. “Era uma vez um louva-a-deus que tentou apanhar a Lua. Queria sentar-se nela e atravessar o céu todas as noites”. Num outro momento, “Era uma vez um rei – e o rei tinha um anel. No anel residia o segredo do seu poder e da sua grandeza”. São vários e diversificados os começos e o mote de histórias que se resiste a aqui revelar por respeito ao leitor, que seguramente ficará refém da beleza do discurso e do imaginário nele contido.
Os animais desempenham um papel importante nestas fábulas – o grande e o pequeno, o forte e o fraco, o corajoso e o cobarde. Juntem-se ao leão, ao lobo, ao chacal e ao rato, ao elefante, à cobra e a muitos outros animais nas suas aventuras. As situações com as quais se irão confrontar, bem como os conflitos que terão de resolver, provocarão tudo menos indiferença.
Nelson Mandela, nascido no Distrito de Umtata, no Transkei, África do Sul, em 1918, foi um exemplo extremo de liderança moral e política. Preso durante 25 anos por desafiar o Apartheid, foi liberto em 1990, guiando o seu país para um regime equitativo e democrático. Até 1999 foi o Presidente da África do Sul, deixando um legado incomparável ao Mundo.
As histórias escolhidas por Nelson Mandela são misteriosas, engraçadas, inquietantes e até excitantes. Simultaneamente passam importantes valores, conhecimentos e sabedoria ancestrais. Tal como o próprio, tentam fomentar o entendimento mútuo e a coexistência pacífica. Uma forma preciosa de mediação e preservação cultural.
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