Comecemos pelo autor. Julián Fuks, filho de pais argentinos, nasceu em São Paulo, no Brasil, em 1981. É apontado pela imprensa como um dos mais promissores jovens escritores brasileiros da actualidade, sendo “A Resistência” (Companhia das Letras, 2016) o seu quarto romance – e o primeiro a ser publicado em Portugal.
Ler “A Resistência” é acompanhar o percurso de redenção e busca de Sebástian, um jovem escritor que procura gerir um conflito emocional que, em certos momentos, se confunde com culpa, pela forma como integrou a existência do irmão, adoptado, expondo-o nessa condição.
É, também, o retrato da força de um casal que se exila no Brasil, abandonando Buenos Aires em fuga à ditadura militar, com uma criança de seis meses nos braços. A hostilidade do ambiente político na Argentina e a necessidade de reconversão de expectativas serve de enquadramento na apresentação de uma família com relações coesas, persistentes e comprometidas, tanto na adversidade social e política como na gestão do comportamento de um filho que, a determinada altura, se retira e se furta à relação.
Caminha-se com uma narrativa introspectiva, na primeira pessoa, de um narrador-autor que procura revelar e processar conflitos interiores, episódios familiares e uma profunda capacidade de resistir, não desistindo das referências familiares como, também, de trazer à realidade o irmão adoptado que, em determinada altura, se furta à própria família. “Pode um exílio ser herdado?”. É esta a questão que se coloca a determinada altura quando o exílio se torna duplo: o exílio político de uma família e, por outro lado, o exílio de um filho numa família.
Não desistir, duplamente persistir. Lutar contra o sentimento de perda de uma identidade, mote para o regresso ao país de origem – do irmão – e à casa onde os pais residiram, à procura de algo que confirme o sentimento de ter pertencido àquele lugar, mesmo sem jamais lá ter estado. Contrariar o isolamento do irmão e a certeza da sua progressiva perda através dos silêncios e das ausências, da recusa em participar e de estar em família – e será esta família verdadeiramente a sua?
Julián Fuks revela, neste livro, uma capacidade de descrever a tensão e o conflito interiores com grande comoção e uma profunda libertação, conseguindo, com mestria, intercalar vivências íntimas e factos históricos.
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