Muitos são os livros infantis que, de tempos a tempos, se atiram ao tema da ignorância e do preconceito, tantas vezes a partir da chegada de alguém vindo de fora que, a partir do momento em que invade um espaço até então imutável, passa a ser olhado com estranheza e desconfiança. É o que acontece em “O Estranho” (bruáa, 2018), um livro escrito e ilustrado por Kjell Ringi, onde assistimos à chegada de um ser que deixa o país inteiro num estado de grande agitação.
Um estranho que, diga-se, tem todo o ar de Big Foot. Aliás, durante quase todo o livro apenas lhe conseguimos o pé enorme, pintado com a cor do salmão, um gigante para os pequenos habitantes que o olham desconfiados, num cenário que traz à memória a Lilliput onde Gulliver deu à costa.
Primeiro, destacam um guarda para o vigiar de perto. Depois, um coro de diplomatas. Segue-se um mensageiro – que não voltou para contar – e, quando a paciência se começa a esgotar, um corajoso pombo, que empunha um cartaz com um revelador “Vai-te embora“.
A verdade é que o Estranho decide ficar, pelo menos até o país decidir enviar o seu exército que, depois de várias tentativas, opta por usar a arma mais pesada. O resultado, esse, toca o inesperado.
As ilustrações, contrapondo os habitantes com ar de hobbits ao gigante, mostram toda a pequenez do preconceito, fazendo uso de um humor quase caricatural – parecemos estar diante de mini-soldadinhos de chumbo – que ridiculariza a ignorância e a não-aceitação da diferença. Já diz a sabedoria popular e com razão: primeiro estranha-se, depois entranha-se.
Sem Comentários